São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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O custo, cadê o custo?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O chamado "custo Brasil" é um enorme entrave aos negócios em geral e aos investimentos estrangeiros em particular, certo?
Certo, menos para as multinacionais norte-americanas instaladas nestes tristes trópicos. Relatório da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica) mostra que as múltis "obtiveram no Brasil o maior índice mundial de rentabilidade sobre o patrimônio (12,09%)".
É o que conta o número mais recente da "Revista da Indústria", editada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Repito: a maior rentabilidade do mundo está aqui mesmo, no Brasil. Para comparação: no Canadá, bem ao lado dos EUA e sem que se fale em "custo Canadá", a rentabilidade sobre o patrimônio não passa de 3,33%, quatro vezes inferior.
Na média da América Latina, a rentabilidade das múltis norte-americanas é de 7,13% e até no México, que vem criando aceleradamente um ambiente econômico francamente pró-business, a rentabilidade não vai além de 9,12% (contra, vale repetir, os 12,09% obtidos no Brasil).
O quadro comparativo que a revista da Fiesp publica tem como fonte o banco de investimentos J.P. Morgan, que, salvo erro de memória, ainda não pediu filiação à CUT.
Nada contra a rentabilidade, seja ela das multinacionais seja das empresas nacionais. Mas deve haver alguma coisa de errado em um país no qual só se fala de reformas para melhorar o cenário em que operam as empresas e, mesmo sem elas, algumas corporações podem exibir resultados que são um recorde mundial.
E depois ainda tem gente do governo que enche a boca para falar dos investimentos diretos que estão vindo para o país, suposto sinal de confiança na economia.
Pode ser, mas não seria mais honesto dizer que é confiança num retorno recorde?

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