São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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No mesmo barco

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - L. Thurow, ex-professor de economia no MIT, acredita no mercado e ninguém duvida de suas convicções capitalistas. Escreveu "O Futuro do Capitalismo" e com honesto raciocínio considera que é antidemocrático, vale dizer, totalitário, ter a economia regida por burocratas internacionais.
Comentei outro dia que a lei da gravidade não pode ser abolida, mas deve ser disciplinada. Foi assim que começou a história da civilização, com o homem disciplinando as leis naturais que o condenavam a viver na caverna, a comer alimentos crus, a morrer sob raios.
Ainda que a globalização seja uma lei tão natural quanto a lei da gravidade, ela terá de ser disciplinada para que o homem não volte à barbárie. Aceitá-la como fatalidade é tolerar a cegueira da brutalidade dos resultados.
Saindo do conceitual e entrando no operacional: uma economia nacional não pode se basear na Bolsa da Tailândia nem na taxa de juros de outro país. Essa é a ameaça que pesa sobre o nosso futuro imediato. Nem adianta invocar que não existem economias nacionais e sim a economia mundial. Para o bem ou para o mal, não estamos no mesmo barco.
Lembro uma charge do Lauzier no "Paris Match", aí pelos anos 70. Uma nave antiga com três fileiras de remadores (trirreme), escravos que dia e noite movimentavam os pesados remos que faziam o barco andar. Com enorme chicote, o capataz imprimia velocidade ao ritmo dos remadores, açoitando-os sem parar.
Um deles, desfalecido, consegue entrar na cabine do comandante que está reclinado à mesa farta, mulheres deslumbrantes colocando cachos de uva em sua boca. O remador diz que assim não dá, o comandante responde: "Mas estamos todos no mesmo barco!"
Globalização é isso. O mundo é o barco. Os comandantes mordem cachos de uvas na fartura da bacanal. Os comandados sofrem na carne o chicote da paz e do progresso.

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