São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 1997
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Free Jazz

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A MONTREAL

Uma multidão de 100 mil pessoas ferve ao som de ritmos afro-cubanos. A irreverente cantora Dee Dee Bridgewater ameaça se atirar numa piscina. Suando em bicas, o gorducho pianista Cyrus Chestnut derrete ao sol de 35°C.
Cenas como essas fazem parte da nova série do programa "Free Jazz", que retorna à TV em agosto, pelo canal pago Multishow (sábados, às 23h, com reprise às segundas, às 22h20).
"É um programa que mistura música e comportamento. Como ele dura apenas dez minutos, não pretende ser informativo. Tentamos passar sensações da música e de suas tribos", resume o videomaker Roberto Berliner, que dirige a série com Victor Lopes.
Para produzir os novos programas, a equipe da TV Zero passou o último mês pesquisando e filmando em cidades como Montreal (Canadá), Berlim e Nova York. Quem já acompanhou a série no ano passado, vai sentir diferenças de linguagem e enfoque.
"Antes nossa base era o videoteipe. Agora filmamos todos os shows em 16 mm. A imagem de cinema ganhou mais espaço nessa nova fase", compara o diretor de fotografia Jacques Cheuiche.
"Estamos dando uma ênfase a novas tendências, como a música eletrônica", avisa Berliner, que já dirigiu clipes premiados da banda Paralamas e de Fausto Fawcett.
Investigando o circuito musical do "underground" berlinense, por exemplo, a equipe se deparou com bandas e músicos ainda pouco conhecidos que apontam para novas direções sonoras.
É o caso do "drum'n'bass" do trio feminino Fast Forward, do auto-intitulado "future jazz" da banda The Lamb e da estranha música eletrônica do Cosmic Level -reunidos em programa que irá ao ar no final de setembro.
"A série cobre uma gama bem grande de música, que vai muito além das ramificações do jazz. A gente pode trabalhar desde o blues até a música eletrônica", explica o diretor Victor Lopes.
"Você fala com um garoto de 18 anos, em um festival no meio da Inglaterra, e ele vai te dizer que adora jazz", conta Lopes, observando que o conceito do gênero está sofrendo transformações.
"Acho que o improviso e o fluxo de som de alguns estilos da música eletrônica, como o jungle ou o trip-hop, têm uma relação direta com o jazz", afirma o diretor.
Os roteiros dos programas são abertos a surpresas. "Nem sempre a estrela rende o esperado. Às vezes, um músico de rua se revela sensacional e acaba aparecendo mais", reconhece Berliner.
Em sua reestréia, no próximo dia 2, "Free Jazz" promete exibir cenas de um show da cantora pop Neneh Cherry, que também foi entrevistada pela TV Zero, durante o recente Hurricane Festival, em Scheesel, na Alemanha.
O segundo programa é dedicado ao jazz latino. Mistura uma entrevista do pianista Gonzalo Rubalcaba com trechos de shows do trompetista Arturo Sandoval e do saxofonista David Sanchez.
"Tentamos mostrar a essência de uma cidade, de um festival ou de um músico", diz Lopes. "Mas o nosso sentido não é jornalístico. Buscamos revelar a relação mais profunda do músico com seu trabalho, com sua vida e o mundo."

O jornalista Carlos Calado viajou ao Canadá a convite da TV Zero.

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