São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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Montreux se rende a 'mundo menor' do fff

PAULO VIEIRA
ENVIADO ESPECIAL A MONTREUX

Uma das principais bandas pop da França, o Fédération Française du Fonck, ou fff, exibiu-se na quarta passada no Festival de Montreux, na Suíça.
Apesar do nome, o grupo fez um show de rock, com a platéia respondendo com um tradicional gesto metaleiro -feito com os dedos indicador e mínimo.
Em disco, a história é outra. Eles soam bastante funk-o-metal, às vezes lembrando Faith no More, às vezes remetendo a Lenny Kravitz.
fff, trocadilho com a sigla da Federação Francesa de Futebol e que também pode significar 666 (f é a sexta letra do alfabeto), o número da besta, lançou seu primeiro disco, "Blast Culture", em 91, com produção de Bill Laswell (Police), com inegáveis grooves de funk e citações de raggamuffin.
O terceiro e último, "fff", editado em 96, bem mais pesado, poderia ressuscitar o funk-o-metal. Nesse disco está "Niggalize It!!!", uma óbvia adaptação de "Legalize It", de Peter Tosh.
Mas não é de drogas que a banda fala. A questão principal é o racismo. O grupo acredita num mundo "menor" e tem o vocalista, Marco, nascido no Togo, e o baterista, Krichou, na Martinica. Em "Niggaliye It!!!", deixam claro: "Igualdade universal é nosso objetivo".
"É mais importante lutar por igualdade, evitar racismos, ofensas. Legalizar a maconha é 'cool', mas não é nossa primeira preocupação", disse à Folha o baterista Krichou, nos camarins do Miles Davis Hall, na quarta-feira.
Uma outra preocupação original da banda, provar que o pop francês existe, não é hoje um cavalo de batalha para o fff. A emergência da cena tecno e a explosão do rap nos subúrbios de Paris e outras grandes cidades francesas diminuíram a responsabilidade do fff.
"Quando gravamos nosso primeiro disco, em Nova York, alguns americanos perguntavam: 'Funk na França! Mas vocês têm guitarras elétricas lá?'", disse o guitarrista do fff, Yarol.
No seu nascimento, o fff pensava em internacionalizar-se. "As bandas francesas sempre se contentavam em fazer sucesso na França. Nós quisemos tocar em festivais de outros países e também compor em inglês.", disse Krichou.
Mesmo ligados a uma "major" do mercado fonográfico, a banda ainda não avançou muito além dos limites da França. No Brasil, por exemplo, não tem disco editado.
"Somos do cast da Sony Music. Mas a Sony se preocupa com o mercado americano e inglês, a França não é nada para eles. Faz sentido quando ela consegue vender 500 mil cópias do disco do Michael Jakson no país."

O jornalista Paulo Vieira viaja a convite da EMI, PolyGram, WEA e Tag Heuer.

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