São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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Peça recria palhaço modernista

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Faltava teatro no modernismo paulistano, nos anos 20. Quando procuraram no palco, os modernistas nada encontraram. Acabaram por escolher o que viram de mais próximo, o palhaço Piolim. Ele se apresentava no centro da cidade, encantava, e seus quadros fizeram dele um modernista.
Foi cultuado por Oswald de Andrade, Alcântara Machado, Patrícia Galvão. Mas não era sua praia, certamente. Como bem mostra "Piolim", ele tinha outra linhagem, e nela se manteve. Mas havia nele o moderno, nos esquetes de traços urbanos, trama mínima, sobretudo na brasilidade.
Esquetes que são revistos em "Piolim", peça dirigida por uma estudiosa do teatro popular do período, Neyde Veneziano. A montagem, que conta a história de Piolim, vale mais por esses momentos, esses quadros recuperados, de grande inspiração e até transgressão -sem o saber.
É quando entra em cena o talento envolvente de Hugo Possolo, Piolim, e Alexandre Roit, o palhaço Chicharrão. Experientes, desenvolvidos nas ruas da cidade, onde precisavam manter o interesse e convencer os transeuntes a deixar algum dinheiro no chapéu, os dois entendem como ninguém a simplicidade cômica dos palhaços.
O Piolim e o Chicharrão deste fim de século são comicamente trágicos como os melhores palhaços, mas nada têm do ranço decadente que se associa ao circo. São mais ambiciosos na arte, alcançando níveis diversos, entre o popular e o erudito.
Possolo é dos mais atuantes dramaturgos e encenadores de hoje, autor de "Sardanapalo". Roit prefere restringir-se à atuação, em que ambos atingem instantes de pungente inspiração. A emoção que causam é quase sempre de alegria juvenil, o que explica a pungência.
Eles formam o núcleo inicial dos Parlapatões, ao qual se juntou, com características de interpretação semelhantes, Raul Barreto -também presente em "Piolim", mas sem a mesma chance nos quadros.
Estranho que a peça, escrita por Perito Monteiro, e a própria encenação sejam, fora dos esquetes, tão conservadoras. Texto e mise-en-scène são contidos, históricos, certamente resultado do projeto de homenagear o centenário do palhaço.
(NS)

Peça: Piolim
Autor: Perito Monteiro
Direção: Neyde Veneziano
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611)
Quando: de quinta a sábado, às 21h30
Quanto: R$ 12

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