São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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Münster se torna museu a céu aberto

Cidade alemã realiza decenal mostra de esculturas

CELSO FIORAVANTE
ENVIADO ESPECIAL A MÜNSTER

A cidade alemã de Münster realiza a cada dez anos o "Sculpture Project", evento que reúne -até 28 de setembro- trabalhos ao ar livre dos mais importantes escultores do mundo.
Este ano estão presentes Sol LeWitt, Ilya Kabakov, Maurizio Cattelan, Andrea Zittel, Nam June Paik, Hans Haacke, Dan Grahan, Rebecca Horn e muitos outros.
A curadoria é de Kasper König, que explicou nesta entrevista à Folha alguns dos conceitos que nortearam a seleção dos artistas.
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Folha - Qual o critério para a escolha dos artistas do "Sculpture Project"?
Kasper König - Decidimos convidar artistas que já haviam participado, como Carl Andre e Michael Asher, mas também aproveitamos para convidar novos artistas, que poderiam produzir trabalhos específicos para o local. Fizemos uma mostra com três gerações. Alguns têm mais de 80 anos, como Herman de Vries, e outros têm menos de 30 anos.
Folha - A mostra tem um tema?
König - Não existe um tema, mas apenas um método, um processo. Em 1977, foram apresentadas esculturas em que a forma e a autonomia eram dominantes. Em 1987, o foco estava na história e nas especificidades locais de Münster.
Esta edição está mais aberta. Ainda existem contribuições de esculturas autônomas, como as de Richard Serra, Richard Deacom e Per Kirkeby, mas basicamente é como um caleidoscópio.
Folha - Essa abertura aproxima o projeto da mostra Documenta?
König - A grande diferença entre os dois eventos é que a curadora Catherine David selecionou trabalhos, e nós convidamos artistas. A Documenta é muito mais rígida. Nós somos mais generosos.
A Documenta fez escolhas muito específicas de produções que são realmente relevantes hoje, como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Gordon Matta-Clark, Marcel Broodthaers. Isso lhe dá um foco muito histórico.
Folha - É possível falar de alguma tendência na escultura?
König - Em Münster, foram apresentados trabalhos mais universais e, de certa forma, mais "naifs", bem-humorados, que brincam com imagens e não refletem tanto a idéia que se tem de arte ou aquilo que se espera encontrar no museu.
A instalação de carros de Nam June Paik, por exemplo, trabalha com uma iconografia muito popular: velhos carros dos anos 40 e 50. Os trabalhos de Roman Signer -um automóvel-fonte e uma bengala que dança sobre o lago- envolvem humor e são muito comunicativos. Ilya Kabakov está pensando no espectador que passa ali por acaso e não apenas naquele que vai até lá para se deitar na grama por causa da escultura.
Folha - A cidade se envolve no projeto? Vi várias esculturas pichadas ou depredadas, como a de Thomas Hirschhorn.
Kõnig - Devemos esperar algum tipo de vandalismo quando estamos em um espaço público. Algumas pessoas estão frustradas por algum motivo pessoal e, se não entendem o trabalho, acabam ficando agressivas. Isso é simbólico quando não se entende alguma coisa. Mas essa é a vida. Não gosto da idéia de policiar os trabalhos, que é uma prática para museus.
Folha - O que a escultura tem que outra técnica não tem?
König - O interessante é a qualidade de se fazer inteligível para uma pessoa que, necessariamente, não sabe do que a arte está tratando. Ela precisa ter um significado simbólico.
Nosso papel sempre foi dividir os riscos com os artistas. Não podemos esperar que eles produzam sempre obras-primas. Talvez isso aconteça, mas não é para isso que trabalhamos. Somos parceiros, mas não para dizer o que o artista deve fazer, mas discutir o trabalho.

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