São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997
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CPI chega ao fim sem indicar onde está o dinheiro desviado

Investigação só localizou 6,7% do valor total fraudado

OSWALDO BUARIM JR.
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Precatórios chega ao fim sem atingir dois de seus principais objetivos: desvendar as caixinhas de financiamento de campanhas eleitorais e recuperar lucros ilegais obtidos com títulos públicos e desviados para contas no exterior.
O relatório do senador Roberto Requião (PMDB-PR) revela que bancos e corretoras da "cadeia da felicidade" tiveram lucros e receberam comissões indevidas no valor de R$ 237,9 milhões, mas até agora a CPI só localizou perto de R$ 16 milhões -6,7% do total.
A CPI descobriu, por exemplo, que o Vetor movimentou cerca de R$ 14 milhões por um fundo da empresa Kingman, controlada pelo banco e com sede nas Ilhas Virgens britânicas.
A empresa era usada no repatriamento de dinheiro ganho de forma ilegal e que era que o Vetor precisava mandar ao exterior para que fosse "lavado" e voltasse ao país como investimento.
Wagner Ramos, ex-coordenador da Dívida Pública da Prefeitura de São Paulo e suposto mentor do "esquema" para forjar precatórios e emitir títulos, teria mais R$ 1,5 milhão nos Estados Unidos. Ramos admite R$ 1,3 milhão.
Outra conta encontrada é a de número 033.095.4752, em agência em Miami do Republic International Bank of New York, que a CPI acredita ser de Pedro Neiva, ex-assessor da prefeitura paulistana.
A CPI chegou a essa conta depois de uma apreensão de documentos que a Polícia Federal fez na sede do Banco Vetor, no Rio de Janeiro.
Entre os documentos havia um fax com aviso à empresa Made in Brazil, antiga distribuidora de títulos e atual agência de viagens, de depósito de R$ 460 mil para PNF, que poderiam ser as iniciais de Pedro Neiva Filho. Neiva é também ex-funcionário do Vetor.
Sub-relator da CPI, o senador Vilson Kleinubing (PFL-SC) está descontente com o empenho das autoridades brasileiras em recuperar o dinheiro perdido. "Já insisti no Senado para que o Banco Central contrate um advogado para rastrear esse dinheiro e não tive resposta", queixa-se.
Segundo ele, o governo brasileiro já poderia estar atrás da repatriação do dinheiro. "O Wagner Ramos admitiu o dinheiro depositado no exterior, então alguém tem que ir lá buscar."
Kleinubing também critica o relatório da CPI, que não aborda o assunto "nem no início, nem no fim, nem no meio" do texto do documento. Neiva é identificado pelo relatório da CPI como responsável pela "vertente política" da equipe da Secretaria das Finanças do município, especializada em forjar precatórios para justificar a emissão de títulos públicos.
Neiva fazia o contato com prefeitos e governadores, revela o relatório da CPI, para "vender" a "tecnologia" com a qual aumentavam os valores de dívidas com ordem judicial de pagamento contra Estados e municípios.
As caixinhas de financiamento de campanhas eleitorais também não foram esclarecidas. A investigação não prosperou sempre que se aproximou de políticos beneficiados com lucros ilegais obtidos com a negociação de títulos.

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