São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997
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Trabalhismo britânico enfrenta libra valorizada

OSCAR PILAGALLO
EDITOR DE DINHEIRO

Moedas sobrevalorizadas que prejudicam o desempenho das exportações não são características exclusivas de economias emergentes, como o Brasil, Tailândia, Indonésia ou as Filipinas.
O problema também atormenta ministros da Fazenda de países industrializados, e o caso mais agudo nesse universo talvez seja o da Grã-Bretanha.
A libra esterlina está valendo muito mais do que gostariam os exportadores britânicos.
A maior apreciação se dá em relação a uma cesta de moedas da União Européia, bloco econômico com o qual os britânicos concentram grande parte de seu comércio exterior.
As diferenças não são enormes. A cotação da libra está quase encostando em US$ 1,70 quando o mercado acredita que em US$ 1,60 as exportações estariam num nível de competição mais perto do ideal.
O raciocínio vale para todos os países: a moeda sobrevalorizada torna os produtos do país mais caros no exterior e, portanto, a competitividade é menor.
O caso da Grã-Bretanha, se não é grave a ponto de ameaçar a saúde da economia, tende a piorar -e não há perspectiva de reversão nesse quadro a curto prazo.
O maior indício dessa tendência é a alta das taxas de juros, num movimento contrário ao da maioria dos países industrializados.
Na quinta-feira da semana passada, a Grã-Bretanha subiu novamente suas taxas. Os juros básicos aumentaram 0,25 ponto percentual, para 6,75% ao ano.
A alta dos juros detona o processo de valorização da moeda. Para poder desfrutar de taxas mais altas, os investidores internacionais compram a moeda local, no caso a libra. E essa maior demanda faz com que haja valorização.
Mesmo antes dessa alta -quando a libra já se encontrava no patamar mais elevado dos últimos cinco anos-, o câmbio sobrevalorizado estava atrapalhando a vida da indústria local.
A produção industrial em maio declinou 1,1% -a maior queda em quatro ano- e tornou a situação comparável à de janeiro de 1987, quando o país quase parou devido a um dos mais rigorosos invernos das últimas décadas.
Mas o que faz com que a situação seja irreversível no futuro previsível não é a alta dos juros, mas a razão pela qual eles subiram.
Os juros subiram porque o governo precisou desacelerar o ritmo de crescimento da economia e ficou sem outra opção depois que o orçamento apresentado pelos trabalhistas se mostrou insuficiente para dar conta do recado.
A expectativa do mercado era que o novo ministro das Finanças, Gordon Brown, impusesse alguma restrição sobre o nível de consumo, o que não destoaria do discurso de Tony Blair, o primeiro-ministro britânico que se elegeu por ter convencido o eleitorado de que não ameaçaria alguns dos pilares conservadores erguidos por Thatcher e mantidos por Major, seus dois antecessores no governo.
Não foi o que aconteceu. Gordon -que tem veleidades de ocupar no futuro o lugar de Blair- concentrou a austeridade sobre os investimentos.
Os fundos de pensão, que são os maiores responsáveis por investimentos de longo prazo, pagarão US$ 6,6 bilhões em impostos adicionais no próximo ano fiscal.
Com o consumidor deixado em paz pelo orçamento, o Banco da Inglaterra -o banco central que o próprio Gordon tornou independente- elevou os juros.

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