São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997
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Economia 'adota' valores morais

The Independent
de Londres

DIANE COYLE
EM LONDRES

Uma verdadeira epidemia de moralidade está assolando a economia. Não é que os catedráticos dessa sombria profissão tenham começado a se comportar melhor -ainda que muitos já sejam modelos de virtude. Em lugar disso, o que está acontecendo é que um número cada vez maior de análises interessantes está começando a focalizar o impacto dos valores nos resultados econômicos.
É o tipo de coisa que soa óbvio a quem não é economista -por exemplo, é mais ou menos evidente que pessoas para quem a ética do trabalho é importante trabalham mais duro. Mas a disciplina moderna da economia sempre procurou manter-se longe de julgamentos de valor declarados.
O Banco Mundial, por exemplo, não abandonou a filosofia de livre mercado -longe disso-, mas um novo relatório seu coloca questões relativas a outras dimensões da política nos países pobres. O governo é corrupto? Qual o nível de desigualdade de renda? As respostas a essas perguntas podem afetar o sucesso das políticas de assistência.
O relatório conclui que não é preciso haver um Estado reduzido ao mínimo, mas um Estado que funcione. Política, história, instituições e leis, todos vão determinar o bom ou mau funcionamento da economia, e não existe estratégia de desenvolvimento que seja adequada a todos os casos.
Um segundo exemplo de economia moldada por valores foi dado numa palestra do professor John Kay, diretor da nova escola de administração de empresas da Universidade de Oxford, em Londres. Especialista em vantagens competitivas, ele argumentou que o governo tem um papel a exercer no fortalecimento das empresas britânicas.
Esse papel seria moldar o contexto cultural e jurídico geral no qual as empresas operam, para que elas possam tirar o maior proveito das coisas nas quais o país é ótimo. O que os governos fazem é moldar a história do país, e a história desempenha papel vital na determinação das vantagens competitivas.
O terceiro exemplo é uma pesquisa recente sobre desemprego e geração de empregos. Um relatório do Conselho de Igrejas adota um tom moralista ao comentar a necessidade de se gerar empregos com salários e condições de trabalho decentes para todos que os quiserem.
Boa parte da análise detalhada contida no relatório se assemelha muito às conclusões do último relatório de Perspectivas de Emprego da OCDE, que focaliza as desigualdades salariais e os baixos salários. A ênfase ao assunto se deve à relutância de alguns países membros da OCDE que apresentam altos índices de desemprego, notadamente a França, em adotar suas receitas de geração de empregos.
Um tema comum às três áreas é a importância do capital social para a economia. O capital físico -ou seja, os investimentos em equipamentos e instalações- sempre teve reconhecido seu papel fundamental no crescimento econômico. Mas, nos últimos 25 anos, os economistas vêm reconhecendo a importância do capital humano: as habilidades e a formação educacional dos trabalhadores que utilizam o capital físico. Com isso, se enfatiza a importância do investimento em educação e formação.

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