São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997
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Queda, selva e lepra

"Só em momento de angústia como este, você descobre o quanto você é frágil"
Antônio Darci Pannocchia, 57
Fevereiro de 1970. Cinco amigos saem de São Paulo para sobrevoar em um monomotor a selva Amazônica atrás de terras ricas em minério de estanho. De repente, o avião começa a perder força e, em poucos minutos, cai de bico no chão. O socorro chega em três dias, mas o hospital está com epidemia de lepra, e os feridos são obrigados a pedir ajuda a um batalhão de fronteira da Bolívia.
Parece Indiana Jones, mas o advogado Antônio Darci Pannochia, 57, exibe até hoje na parede de seu escritório a foto emoldurada do avião monomotor destroçado para comprovar a sua história.
"Eu estava negociando a compra de terras em Rondônia e queria conhecer a área. Estava na frente com o piloto. De repente, o avião começou a cair. A reação é indescritível. Pânico total, sensação de frustração e impotência", conta.
Pannochia quebrou uma perna e machucou muito o rosto, o piloto teve cortes profundos no pescoço, os outros passageiros, ferimentos leves. "Saímos rápido do avião, porque vimos gasolina pingando e ficamos com medo de explodir. Depois, lembrei que meus documentos e o dinheiro para a compra das terras estavam lá e voltei para pegar."
O advogado e seus amigos passaram três dias na selva comendo apenas tomates, que estavam no avião, e sem beber água, devido ao risco de contaminação. No terceiro dia, foram localizados por garimpeiros e levados até o garimpo. No mesmo dia, conseguiram uma carona em um avião até Porto Velho.
"Ao chegar no hospital, fui atendido por uma enfermeira e levado para uma sala. Quando ia começar a limpar meus ferimentos, um médico entrou gritando: 'Tire esse homem daqui. Ele não pode vir para cá, acabei de cuidar de 11 leprosos nessas mesmas camas'."
O grupo foi encaminhado então para um batalhão de fronteira com a Bolívia. Pannochia teve de fazer cirurgia plástica no rosto, e os traumas psicológicos duraram um ano. "Não podia ver um filme com avião caindo, que ficava apavorado. Depois, superei e voltei a viajar."

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