São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 1997
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Avião que caiu fazia rasante, mostra fita

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CONSELHEIRO LAFAIETE; DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIA PRATES
A delegacia de Polícia Civil de Conselheiro Lafaiete abriu inquérito policial para apurar as responsabilidades criminais no acidente com o monomotor Ercoupe PP-DEN, que resultou em 8 mortos e 11 feridos, anteontem.
A polícia conseguiu ontem uma peça importante para desvendar as condições do acidente: a fita que estava sendo usada pelo cinegrafista Gildásio Dutra Pinto no momento do acidente.
O delegado-titular da Polícia Civil de Conselheiro Lafaiete (a 96 km de Belo Horizonte), Pedro Antônio Mendes Moreira, não quis divulgar as imagens, mas afirmou que elas comprovam que o piloto do avião acidentado, Célio Rodrigues, fazia vôos rasantes no momento do acidente.
Rodrigues teria feito três vôos rasantes em torno da estátua do Cristo, no alto da praça, e atingido um poste de iluminação no terceiro vôo, para em seguida cair sobre a multidão e chocar-se com dois veículos que estavam estacionados. Um deles era o caminhão em que seria realizado um bingo.
Segundo regras internacionais, o avião deveria voar a pelo menos 330 m de distância do Cristo (leia texto abaixo).
A polícia está à procura do piloto, que conseguiu fugir do hospital antes de ser medicado. Segundo o delegado Pedro Moreira, ontem foram feitas buscas em Belo Horizonte, onde ele morava e trabalhava, antes de se mudar para Conselheiro Lafaiete, há dois meses.
O delegado está fazendo um levantamento sobre a vida do piloto e apurando uma possível embriaguez. Testemunhas da cidade afirmam que o piloto fez manobras perigosas em outras situações.
A expectativa do delegado era de que ele se apresentasse à polícia depois de 24 horas do acidente, para evitar o flagrante. Mas até as 17h de ontem, 27 horas depois, ele ainda não havia aparecido. Caso ele não se apresente, a polícia pode pedir sua prisão preventiva.
Minutos depois do acidente, Célio Rodrigues pegou um táxi na porta do hospital foi até o aeroporto da cidade, a 5 km do centro.
Segundo o delegado Pedro Moreira, funcionários do hospital disseram que ele chegou lá dizendo "besteiras".
Licença vencida
O piloto Célio Rodrigues estava com seu Certificado de Habilitação Técnica (licença para pilotar aeronaves) vencido desde maio de 96, segundo o DAC (Departamento de Aviação Civil).
Isso significa que o piloto estava voando desautorizado. Apenas por essa infração, mesmo que o acidente não tivesse ocorrido, ele poderia ter sua licença cassada.
Rodrigues tinha certificado de piloto privado. A licença deve ser renovada a cada dois anos.
No momento do acidente -por volta das 13h50-, cerca de 2.000 pessoas, segundo a PM, estavam na praça para participar do Tele Bingão da Terra, que sortearia cinco carros e um prêmio de R$ 5.000.
Quatro pessoas morreram na hora. Outras quatro morreram ao dar entrada no hospital.
Ontem de manhã, a delegada-adjunta de trânsito, Meire Milagres de Almeida Vieira, que preside o inquérito, ouviu o depoimento do dono da escola de aviação e manutenção da cidade, Francisco Rezende de Paula, que alugava um local no hangar da escola para o proprietário e piloto do avião, Célio Rodrigues.
Uma das testemunhas-chaves, o operador de VT da TV Lafaiete Gildásio Pinto, que fazia filmagens de dentro do avião, não pôde ser ouvido, por recomendação de seu médico.

Colaborou a Reportagem Local

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