São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Três manifestantes são baleados e outros 10 ficam feridos em conflito

ARI CIPOLA; LUIZA BARREIROS

da Agência Folha, em Maceió, e free-lance para a Agência Folha, em Maceió
Um policial militar e um civil alagoanos, além de um servidor do Estado, foram atingidos por tiros durante o confronto entre manifestantes que pediam o afastamento do governador Divaldo Suruagy (PMDB) e homens do Exército junto à Assembléia Legislativa de Alagoas.
Foram disparados mais de 200 tiros e lançadas aproximadamente 20 bombas de efeito moral.
Ainda como saldo do conflito, cerca de dez pessoas tiveram ferimentos provocados por cassetetes e baionetas.
Nenhum inquérito foi aberto. A Polícia Civil está em greve desde a última sexta-feira.
Plenário
As explosões e tiros de fuzil provocaram pânico também no plenário da Assembléia Legislativa, onde 26 dos 27 deputados estaduais se preparavam para abrir a sessão que decidiria pelo impeachment ou não do governador Suruagy.
Durante o tiroteio, alguns deputados saíram correndo do plenário com a armas em punho.
Outros preferiram deitar no chão, como fizeram os funcionários e jornalistas. Nenhum tiro atingiu o plenário.
"Guerra"
"Estou com essa pistola e mais um cartucho no bolso, porque vim para a guerra. Estou também com um colete à prova de balas. Na guerra, toda prudência é pouca", afirmou o ex-presidente da Assembléia, deputado Antônio Albuquerque (PMDB), um dos 17 governistas.
Exército
O comandante do 59º Batalhão de Infantaria Motorizada do Exército, coronel Antônio Carlos Almeida, afirmou que seus homens apenas dispararam para cima.
"Não temos a informação de que teve gente baleada. Nós só disparamos para cima", afirmou. Segundo ele, se alguém da tropa disparou contra os manifestantes, a identificação poderá ser feita pelo calibre das balas.
A prefeita de Maceió (AL), Kátia Born (PSB), afirmou ontem que a operação do Exército foi "imprudente". Born ficou no meio da praça durante o tiroteio.
"Ofereci ao comandante a Guarda Municipal para tomar conta da praça, onde o povo tinha que ficar. O Exército acabou criando uma tensão desnecessária", afirmou a prefeita.
Os feridos
Um dos feridos é o policial civil Gilson Pedro do Nascimento, 34, lotado no 5º Distrito Policial, em Maceió. Ele levou um tiro na perna direita. Ele foi socorrido no Hospital do Pronto Socorro, onde recebeu apenas curativo no ferimento deixado pela bala que atravessou sua perna.
O PM Sebastião de Oliveira, 26, levou um tiro no braço e também passa bem. Teve alta no início da tarde no Hospital da PM.
O terceiro baleado foi o agente administrativo da Secretaria de Fazenda do Estado, Antônio Fernandes Neto Filho, 37. Ele levou um tiro na coxa esquerda. A bala fez apenas um corte profundo.
Neto Filho é irmão do presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas, José Carlos Fernandes Neto. Ao saber que o irmão havia sido atingido, o sindicalista pegou o microfone do carro de som (um trio elétrico) e resumiu o clima da praça onde aconteceu o confronto:
"O sangue da minha família foi derramado na praça. Agora, minha vida não é mais minha. Minha vida é da luta. O governo do Suruagy já não existe mais".
(ARI CIPOLA e LUIZA BARREIROS)

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