São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Em Recife, passeata reúne 8.000; Exército isola área do palácio

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Cerca de 8.000 pessoas, segundo os organizadores, participaram ontem à tarde, em Recife (PE), de uma passeata convocada por policiais civis e militares, em greve por melhores salários.
As principais avenidas do centro foram bloqueadas pelos manifestantes, que responsabilizaram o comando da PM e o governador Miguel Arraes (PSB) pela crise.
O bloqueio das ruas, feito com motos e carros particulares, durou cerca de uma hora e provocou tumulto no trânsito.
O Exército, que desde a quarta-feira protege a sede do governo do Estado, ampliou sua área de atuação e isolou com rolos de arame farpado a rua e a praça localizadas em frente ao palácio.
As tropas também foram reforçadas, com soldados armados de fuzis e metralhadoras postados em filas duplas. Os PMs em greve passaram a 200 metros da sede do governo, mas não houve confronto nem provocações.
Os policiais, com apitos e rostos pintados de verde e amarelo, gritaram palavras de ordem e agitaram no ar notas de R$ 10, valor do abono concedido pelo Estado e rejeitado pela categoria.
A passeata foi engrossada por representantes de sindicatos de trabalhadores e estudantes.
A Associação dos Oficiais, Subtenentes e Sargentos da PM também decidiu apoiar a greve, mas não participou do protesto.
Os grevistas receberam manifestações de apoio durante todo o percurso. Papéis picados foram jogados das janelas dos prédios.
Na praça do Carmo, ponto final da caminhada de um quilômetro, os policiais decidiram retornar à praça 13 de Maio, onde se concentravam desde a madrugada.
No local, aguardariam o resultado de uma reunião entre representantes do governo, grevistas e deputados estaduais, iniciada às 14h. Até as 18h, nada havia sido divulgado sobre a negociação.
Os grevistas acenavam com a possibilidade de se recolherem aos quartéis, caso o governo concordasse em rever sua proposta.
Os policiais reivindicam reajuste salarial de 75%. O governo oferece R$ 10 de abono e gratificações que elevam os salários de 11,34% a 29,15%, dependendo da patente ou função exercida pelo policial.
Os dois únicos incidentes registrados ontem envolveram os próprios policiais militares.
Dois deles, suspeitos de pertencer ao serviço reservado da PM, foram flagrados na concentração filmando os grevistas.
Os supostos "espiões" foram cercados e houve um princípio de tumulto. As fitas de vídeo foram retiradas das filmadoras e quebradas pelos policiais.
Também durante a concentração que antecedeu a passeata, policiais chegaram a ameaçar repórteres que os viram bebendo nos bares próximos ao local.
Acusado de intransigência, o governador Miguel Arraes manteve silêncio sobre a greve. Seus assessores informaram que ele estaria disposto a negociar, mas não abriria mão do direito de ter a última palavra sobre o assunto.
Tropas do Exército foram deslocadas ontem para garantir a segurança externa na penitenciária de segurança máxima Barreto Campelo e no manicômio judiciário de Pernambuco.
Os policiais responsáveis pela guarda externa das unidades, em Itamaracá (45 km de Recife), decidiram aderir à greve por melhores salários dos PMs.

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