São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Agentes 'vendem' visita do papa como bom negócio

ELVIRA LOBATO

ELVIRA LOBATO; XICO SÁ
DA SUCURSAL DO RIO

Empresários doariam a 'custo zero' e com benefício para sua imagem

XICO SÁ
A visita do papa João Paulo 2º ao Brasil, marcada para outubro, está sendo apresentada às empresas como um bom negócio e não apenas como um evento religioso.
Além de investimento, agentes que tratam da visita prometem um encontro com o papa aos que colaborarem com o pagamento das despesas da visita.
Empresários do Rio e de São Paulo têm sido procurados, nos últimos dias, por agentes especializados em obter recursos para produções culturais.
Eles mostram a possibilidade de utilização da Lei Rouanet, que regulamenta dedução de imposto em financiamentos de eventos artísticos, para as empresas que ajudarem a realizar o "Encontro das Famílias com o Santo Padre", a ser realizado no estádio do Maracanã.
Em São Paulo, o responsável pelo contato com os empresários é o agente autônomo Carlos Reis, especialista em investimentos.
No Rio, as doações estão sendo intermediadas pela empresa Awfa Consultoria e Projeto, que se associou ao agente José Alberto Graziano para levar adiante o negócio.
Somente em São Paulo, segundo Reis, já foram contatados cerca de cem donos de empresas. No momento, ele aguarda as respostas.
Segundo Reis, as despesas com a visita devem chegar aos R$ 8 milhões. Por este motivo, diz, o comitê que organiza o evento apelou para a arrecadação.
"Visita de sua santidade, o papa" é o título da carta que Reis está enviando a empresários, cuja cópia foi obtida pela Folha.
No texto, ele enumera as vantagens fiscais e mercadológicas que as empresas podem obter se fizerem doações para o evento. Tenta também convencer os empresários que, no final das contas, a doação terá "custo zero".
A carta lembra que o governo enquadrou o ato no Maracanã como um evento cultural e, portanto, 40% do valor das doações podem ser abatidos do Imposto de Renda a pagar das empresas.
Alerta ainda que as firmas podem lançar integralmente o valor da doação como despesa operacional, o que também reduz ainda mais o imposto devido.
Além disso, acena com a possibilidade de distribuição de bonés, ventarolas, almofadas, camisetas e lenços com a marca dos produtos da empresa associada ao selo criado para a visita do papa e chama a atenção para os "extensos benefícios mercadológicos".
Os termos da carta surpreenderam o presidente do comitê de empresários formado para assessorar no financiamento da visita.
O ex-ministro da Economia Marcílio Marques Moreira, presidente do conselho, disse que não conhecia a carta, embora estivesse informado de que havia uma pessoa designada para contatar as empresas em São Paulo.
Na verdade, os agentes estão agindo com autorização da própria Arquidiocese do Rio.
Segundo Jomar Pereira da Silva, coordenador-geral de divulgação do governo do Rio, partiu dos agentes a iniciativa de procurar a Arquidiocese. Ficarão com 15% do que arrecadarem.

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