São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Bradesco enviou carta à CPI

DA REPORTAGEM LOCAL

A diretoria do Bradesco, procurada ontem à tarde pela Folha, não quis comentar as afirmações do senador Roberto Requião (PMDB-PR).
O senador acusou o presidente do banco, Lázaro Brandão, de querer "encomendar a pizza" com a carta que enviou à CPI dos Precatórios. Para Requião, o Bradesco participou da "cadeia da felicidade" dos títulos públicos.
Leia a seguir a íntegra do documento enviado pelo presidente do Bradesco à CPI:

Excelentíssimo Senhor Senador Geraldo Melo
DD. Presidente em exercício da
Comissão Parlamentar de Inquérito dos Títulos Públicos
Senado Federal, Brasília - DF
Senhor Senador,
Tomamos conhecimento através da Internet do relatório elaborado pelo senador Roberto Requião, relator dessa Comissão Parlamentar de Inquérito.
Trata-se de trabalho importante, de grande complexidade, que envolve matéria de alta relevância para o nosso país.
A par dessa relevância, há que se reconhecer também o anseio com que a sociedade aguarda o desfecho dos trabalhos realizados.
Acontece, porém, que o relato publicado, no nosso entender, quando analisou a participação do Bradesco e dos seus diretores nas transações havidas com os títulos públicos estaduais e municipais, foi injusto e não retratou a realidade dos fatos apurados. Também não se preocupou em levar em conta as explicações e os documentos trazidos como prova da inexistência das irregularidades que nos eram imputadas.
Indignou-nos a imputação absolutamente infundada de crimes gravíssimos aos administradores desta instituição, como formação de quadrilha e estelionato. Igualmente injusta a acusação de que acionistas e fundistas sofreram prejuízos.
Com o advento do Plano Real em junho de 1994, passamos a observar mutação de comportamento nas aplicações da clientela, com sensível incremento nas carteiras dos Fundos de Investimento. O Bradesco, em 1995, teve aumento de 63% e, em 1996, 93% nos Fundos de Investimento, exigindo dos administradores a alocação em ativos de boa rentabilidade e segurança, razão pela qual, como opção, adquirimos maiores volumes desses ativos, vez porque suas ofertas também foram maiores no mercado.
O Bradesco detém 2,1% (R$ 993,0 milhões) do montante de R$ 47,5 bilhões emitidos por Estados. Os demais 97,9% estão em poder de outras instituições e/ou tomadores finais. Detém ainda 9,8% (R$ 667,0 milhões) do montante de R$ 6,9 bilhões emitidos por municípios. Os restantes 90,2% estão em poder de outras instituições e/ou tomadores finais. Esses montantes incorporam títulos emitidos para toda finalidade, inclusive para pagamento de precatórios. Mesmo assim, participamos apenas no mercado secundário e sempre a preços compatíveis com os praticados pelos tomadores finais.
Para nossa surpresa o relatório não faz referência a pronunciamentos, esclarecimentos ou respostas emanados dos depoimentos dos três dirigentes do Bradesco perante essa Egrégia CPI.
A propósito, o relatório não incorporou e nem fez menção às conclusões da auditoria feita pelo Banco Central no Bradesco, por determinação da própria CPI em 7/4/97, peça essencial para se verificar a normalidade e a legalidade das operações realizadas pelo Bradesco.
Numa demonstração inequívoca do interesse pela moralização do mercado financeiro, o Bradesco, através de seu presidente, apresentou, por ocasião de seu depoimento perante V. Exas., em 7/4/97, propostas para alteração do "modus operandi" para a colocação dos títulos emitidos por Estados e municípios, que acreditamos estar fazendo parte dos documentos anexos ao relatório da CPI.
Urge, portanto, que os equívocos sejam reparados, razão pela qual dirigimo-nos a V. Exa., no sentido de que seja submetido ao judicioso critério do plenário da CPI dos Títulos Públicos, o reexame do relato dos fatos em que fomos envolvidos, bem como das expressões que foram utilizadas como referências ao Banco Bradesco S.A., restaurando dessa forma o ideal de justiça que deve nortear os trabalhos dessa ilustre Comissão Parlamentar de Inquérito.
Cordialmente,
Lázaro de Mello Brandão
Banco Bradesco S.A.

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