São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997 |
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Leia correspondência com secretário
PATRICIA DECIA
"Minúcias do Cotidiano" (título provisório) trará cerca de 50 documentos, entre cartas e bilhetes, a maioria referente ao período em que Andrade passou no Rio de Janeiro, após ser demitido do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo, em 1938. "Na vida de um escritor, nem tudo é discussão literária. Essa é a primeira correspondência que traz a vivência miúda, o conserto da Manuela -a máquina de escrever-, o controle do dinheiro", afirma. Moraes trabalha como estagiário no Arquivo Mário de Andrade, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), faz parte da comissão que delibera sobre a correspondência do escritor e, em junho, defendeu tese de mestrado sobre a correspondência Andrade-Bandeira. Zé Bento, como o chamava Mário, foi secretário, bibliotecário, responsável pela limpeza e conservação dos livros, além de ajudante na pesquisa de textos. Conheceu Mário de Andrade no Conservatório Dramático Municipal de São Paulo, onde foi seu aluno nas aulas de Estética e História da Música. Mineiro de Pouso Alegre, vivia em São Paulo com a mãe e a tia, a quem tinha de sustentar. Mas foi também da mãe que ele herdou o gosto pela música, que o levou ao conservatório. "Minha mãe me preparou para o encontro futuro que teria com Mário de Andrade. O cultivo pelas artes, o amor pelo livro foram misteriosamente penetrando em mim e isso eu devo a ela", diz Zé Bento. A necessidade de trabalhar o fez prestar concursos públicos, mas se lamentava de ter de deixar São Paulo, onde nutria vida intelectual. Fez esses lamentos a Andrade, numa conversa após as aulas. Um tempo depois, Andrade o chamou para jantar e fez o convite. Queria que ele substituísse sua irmã, que iria se casar, nas funções de secretário particular. Por um salário de 200 réis, Zé Bento trabalhava três horas diárias na casa de Andrade, na rua Lopes Chaves. Durante os 11 anos de trabalho, Zé Bento também abria cartas e copiava os textos na máquina de escrever. Como recompensa, recebeu uma citação em seu testamento como o destinatário de uma soma em dinheiro nunca encontrada e aparece num dos poemas da "Lira Paulistana". "Essa referência é muito sintomática da amizade deles, uma amizade de possibilidades", diz Moraes. Texto Anterior: Uma carta continua lacrada Próximo Texto: "Quando Mário morreu, fiquei solto no mundo" Índice |
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