São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Alagoas é o Brasil

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A virtual desintegração do Estado de Alagoas pode ser examinada de duas formas:
1 - a escapista. É supor que essas coisas só acontecem porque é Alagoas, o Nordeste etc.;
2 - a realista. É ter claro que Alagoas não passa de um microcosmo do Brasil. Boa parte dos Estados brasileiros está também em situação pré-falimentar.
Não convém esquecer que as primeiras cenas de baderna envolvendo o aparelho policial ocorreram em Minas Gerais, que fica no Sul maravilha e disputa com o Rio o título de segundo mais rico Estado brasileiro.
Outro escapismo é supor que as dificuldades de muitos Estados se devem a alguma praga divina. A praga que devasta Alagoas chama-se coronelismo político.
Alagoas é uma capitania hereditária de um punhado de famílias, no sentido figurado ou literal da palavra. Gente como os Collor de Mello, que ocuparam o governo diretamente, com Fernando Collor, ou indiretamente, com o sucessor de Collor, Geraldo Bulhões.
Desse grupo restrito fazem parte o atual governador, Divaldo Suruagy, e o senador Guilherme Palmeira (PFL).
O comando político de Alagoas pertenceu, em rodízio, a um membro ilustre dessas poucas famílias, que, por sua vez, se interligam ao coronelato econômico representado pelos usineiros. Não esquecer que o acordo Collor/usineiros tem sua cota-parte nada desprezível na sangria do Estado.
É possível que o coronelismo tivesse uma sobrevida menos longa se não fossem suas ramificações federais. Afinal, o senador Guilherme Palmeira seria hoje o vice-presidente da República, não tivesse sido flagrado em alguma irregularidade (nem lembro mais qual) quando já era o companheiro oficial de chapa de Fernando Henrique Cardoso.
Alguém aí acha que o país chegará à modernidade com esse tipo de políticos?

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