São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

UMA NOVA VELHA ONU

O anúncio dos EUA de que podem aceitar países em desenvolvimento como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, sem que tenham, contudo, direito a veto, revela outra face da desordem que se segue ao fim da Guerra Fria.
Cabe lembrar, inicialmente, que as próprias Nações Unidas são uma herança da 2ª Guerra Mundial, que levou os países vencedores do conflito à condição de principais pólos decisivos de questões internacionais.
Posteriormente, com o advento da Guerra Fria, o órgão internacional tornou-se quase que inoperante. Os blocos que acabaram entrando em conflito tinham direito a vetar unilateralmente qualquer decisão do suposto órgão supranacional.
Essa situação perdurou até a derrocada final do bloco soviético em 1991 e encontrou o seu auge na Guerra do Golfo, na qual os EUA conseguiram impor sem grandes dificuldades os seus planos bélicos e geopolíticos.
Percebendo a necessidade de renovar o paradigma arcaico que ainda paira sobre o órgão que arbitra as questões multilaterais, várias nações propuseram a ampliação do Conselho de Segurança da ONU, abrindo espaço para grandes nações desenvolvidas ou emergentes, como a Alemanha, o Japão, o Brasil e a Índia, entre outros candidatos potenciais.
Parece, porém, ingenuidade imaginar que os EUA, a nação vencedora da Guerra Fria, venha a abrir mão da confortável situação de única grande potência remanescente do conflito Leste-Oeste. A atual estrutura da ONU é bastante propícia para que Washington exerça, dentro da ordem internacional, papel preponderante.
Ampliar o Conselho de Segurança sem permitir o direito de veto aos novos membros parece, antes, mero jogo de cena. Admite-se que o mundo hoje é multipolar, mas não se dão as condições para que essa nova ordem encontre o seu local de direito.
O risco é a ONU acabar tornando-se uma espécie de Liga das Nações, um belo projeto sem nenhum respaldo na realidade global.

Texto Anterior: A DUPLA HERANÇA DE PITTA
Próximo Texto: A privatização do papa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.