São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 1997
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O silêncio de Maciel

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Quando fala, o vice-presidente da República, Marco Maciel, quase nunca é contundente.
Quebrou essa regra na semana passada ao falar com jornalistas para criticar o recente balão de ensaio dos tucanos, que acenam com a possibilidade de transformar o país numa República parlamentarista.
A definição de Maciel para esse tipo de insinuação tucana foi uma bem estudada "boutade". Eis o que disse o vice-presidente do Brasil sobre a possível adoção do parlamentarismo:
"Olha, eu chamaria isso de tertúlia flácida. Conversa mole. Tertúlia flácida para bovino dormitar. É conversa mole para boi dormir".
Esse comentário atípico de Maciel permite uma inferência: quando sabe o que quer, o vice-presidente não hesita em expressar seus pensamentos.
Além disso, ao dinamitar o parlamentarismo, Maciel não corre risco algum. Os tucanos a favor dessa idéia não têm o menor poder de barganha no presidencialismo pefelista de FHC.
Profissional da política, aos 57 anos completados hoje, Maciel só evita dar declarações -sejam a favor ou contra- quando há perigo de estar desagradando a alguém.
Aí chega-se ao ponto delicado. Por exemplo, o vice não dá o menor passo em falso a respeito da sua candidatura no ano que vem ao lado de FHC. Nada diz. Fica mudo. É impossível extrair de Maciel um único comentário, seja de forma reservada ou não, sobre como será sua postura em 98.
Como os pefelistas -exceto os da Bahia- repetem em bloco que a chapa governista de 98 será com FHC e Marco Maciel, fica a impressão de que o vice tenta ser polido ao não comentar sua virtual candidatura.
Mas essa polidez não responde tudo. FHC articula um novo mandato sem parar. Só faz isso. Sem segredos. Por que Maciel não atua da mesma forma? É uma incógnita com várias possíveis respostas.
A suposição mais recorrente é que o posto de vice ainda não está definido. O boato existe há mais de um ano. Mas, agora, tem ganhado força.

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