São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 1997
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Istambul foi Nova Roma e sede imperial

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DO ENVIADO ESPECIAL À EURÁSIA

Ela sempre encantou escritores e atraiu artistas, intelectuais e gente famosa -de Júlio Verne a Agatha Christie, de Trótski a Greta Garbo, de Humphrey Bogart a Jackie Onassis. A Istambul de "Kéraban, o Cabeçudo", de "Assassinato no Expresso do Oriente", de tantos mistérios e fantasias, continua exercendo fascínio.
Istambul é o nome atual de Constantinopla, que, por sua vez, substituiu Bizâncio, uma das diversas colônias gregas fundadas a partir do século 8º a.C. ao longo do estratégico estreito do Bósforo e do mar Negro.
O povoamento foi tomado pelos persas em 512 a.C. e, sucessivamente, dominado por Atenas, Esparta e pela Macedônia de Alexandre, o Grande. Cidade livre sob Roma, gradualmente perdeu autonomia até curvar-se ao imperador Vespasiano.
No século 2º, depois de desviar-se novamente do poder romano, foi arrasada pelo imperador Septimus Severus, que promoveu sua reconstrução.
Resistiu a invasões e permaneceu intocada até Constantino, o primeiro imperador romano a adotar o cristianismo.
A Nova Roma
Inicialmente sede das regiões orientais de Roma, Bizâncio, transformada em Constantinopla, passou, com a derrota imposta por Constantino a Licinius, a capital de todo o Império Romano -assediado, no Ocidente, pelas invasões bárbaras.
A assim chamada Nova Roma foi oficialmente inaugurada em 11 de maio de 330.
Um dos pontos mais portentosos do mundo de então, a rica e bela Constantinopla tornou-se um centro de poder imperial e religioso de Roma. Cristã, romana e grega, fundindo influências ocidentais e orientais, a cidade criou um novo espaço cultural, artístico e arquitetônico.
Constantino triplicou as dimensões da antiga Bizâncio, promoveu a construção de edifícios imperiais e finalizou o grande hipódromo iniciado por Severus. Construiu igrejas imponentes e decorou as ruas com peças capturadas de cidades rivais.
Embora cristã, a cidade de Constantino, segundo historiadores, era tolerante com as crenças pagãs e benevolente com os judeus.
O declínio de Constantinopla está associado a diversos fatores. Um deles, a ocorrência de uma peste, em 542, que teria matado mais da metade dos habitantes. Nos séculos seguintes, foi assediada por persas, russos, árabes, búlgaros.
Por volta do século 10º, com a ascensão das repúblicas marítimas italianas, entre elas Veneza, Constantinopla passa a ter ambíguos parceiros ocidentais.
Em 1204, Veneza, à frente da Quarta Cruzada, promoveu o grande Saque de Constantinopla, arrasando a cidade.
A queda
Em 1453, depois de dominada novamente por gregos e reforçada por genoveses, Constantinopla não resistiu: foi conquistada pelos turcos otomanos, originários do interior da Ásia Menor.
A queda de Constantinopla -como o episódio é conhecido no Ocidente- foi um dos fatores que estimularam as navegações portuguesas, em busca de uma rota alternativa para o Oriente.
Mehmet 2º, o Conquistador, promoveu nova onda de construções -entre elas o suntuoso palácio Topkapi.
A longa história do sultanato encerra-se em 1923, com a fundação da república. Seu grande artífice, Mustafa Kemal, o Atatürk (que significa pai dos turcos), deu ao país feições ocidentalizadas.
Criou uma nova escrita, com base no alfabeto latino. Hoje, a Turquia faz parte da Otan e, embora predominantemente muçulmana, tem intenção de participar da União Européia.
(MAG)

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