São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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Policiais civis decidem entrar em greve

ANDRÉ LOZANO; CLÁUDIA TREVISAN; LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 800 policiais civis do Estado de São Paulo decidiram ontem entrar em greve por aumento de salário. A decisão foi tomada em reunião no Palácio dos Bandeirantes depois de fracassar uma tentativa de acordo com representantes do governo.
A data da greve será decidida em assembléia da categoria, que reúne cerca de 40 mil policiais, marcada para a próxima sexta-feira.
A reunião de ontem não teve caráter de assembléia por que não atendeu ao requisito legal de ser convocada por edital. Mesmo assim, os presidentes dos sindicatos de funcionários da polícia consideraram a decisão válida.
A greve deverá afetar as investigações de crimes, a emissão de carteiras de identidade, o recolhimento de cadáveres pelo Instituto Médico Legal e a vigilância dos presos nos distritos.
Segundo o presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia de São Paulo, Lourival Carneiro, a categoria vai manter 30% do efetivo trabalhando durante a greve para atender emergências.
A maioria dos policiais que foi ao Bandeirantes era de DPs (Distritos Policiais) da região central da cidade, onde a panfletagem dos sindicatos foi intensa.
"O governo Covas está jogando a população nas mãos dos marginais. Se ele continuar fingindo que paga salário para a gente, nós vamos fingir que trabalhamos", disse o presidente do Sindicato dos Delegados do Estado de São Paulo, Paulo Roberto Siquetto.
Explosão
Segundo ele, não é só na Polícia Civil que há insatisfação: "Nós já prevenimos o governo que os quartéis da PM estão prestes a explodir", afirmou.
A manifestação de policiais civis e mulheres de policiais militares realizada ontem em São Paulo teve baixa adesão. Cerca de 600 pessoas compareceram à manifestação, segundo a PM. Os organizadores esperavam até 3.000 pessoas.
Os manifestantes reivindicavam reajuste salarial maior que o proposto pelo governador Mário Covas (PSDB): 8,5% a 34% para a PM e de 5,1% a 34% para a Polícia Civil.
Carneiro, do sindicato dos investigadores, admitiu que o número de manifestantes era menor que o esperado. Para ele, dois motivos afastaram os policias do ato: a chuva e a posição do governador.
Os manifestantes se concentraram no Palácio da Polícia, sede da Delegacia Geral da Polícia Civil, no centro de São Paulo. Aos gritos de "Ah! Eu sou polícia!" e "Polícia, unida, jamais será vencida" seguiram a pé até a praça da República, também no centro.
No caminho, uma série de oradores se revezaram no carro de som, cedido pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, vinculado à Força Sindical.
Entre eles, o presidente da CUT, da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva e o líder do MST José Rainha -para quem o Exército será a próxima instituição a se mobilizar para reivindicar melhores salários.
Os manifestantes chegaram à praça da República às 15h30. Da praça, os foram de ônibus até o Palácio dos Bandeirantes. A organização do ato afirmou havia 50 ônibus. A reportagem da Folha contou 16.
Os ônibus chegaram às 17h30 no Palácio dos Bandeirantes. Os manifestantes foram para o auditório Ulysses Guimarães. Uma comissão foi recebida pelo secretário interino da Segurança Pública, Luiz Antônio Alves de Souza. A Folha apurou que os policiais civis esperavam ser recebidos pela Tropa de Choque da PM, o que não ocorreu.
Foi montado um esquema especial de segurança para receber os manifestantes. Todo o efetivo da PM lotado nos Bandeirantes foi mobilizado. São 103 policiais. Normalmente, trabalham cerca de 60.
As lideranças dos policias civis apresentaram contraproposta ao governo: 44% para carcereiros e agentes, 34% para investigadores e escrivães e 15% para delegados, médico-legistas e peritos.
(ANDRÉ LOZANO, CLÁUDIA TREVISAN e LUIS HENRIQUE AMARAL)

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