São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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Governo é forçado a romper com usineiros

ARI CIPOLA; VANDECK SANTIAGO; RODRIGO VERGARA
DA AGÊNCIA FOLHA E DO ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

Forçado pelo governo federal, o governador interino de Alagoas, Manoel Gomes de Barros (PTB), anunciou ontem o rompimento unilateral dos acordos do Estado com os usineiros, que não pagam impostos estaduais desde 1988.
Assinados pelo então governador Fernando Collor de Mello, os acordos geraram um prejuízo de cerca de R$ 700 milhões aos cofres estaduais. Em consequência deles, o governo alagoano perdeu 50% de sua receita própria.
O rompimento se dará em dois campos. O primeiro será jurídico. A Procuradoria Geral do Estado ingressa hoje com ações cobrando o cancelamento dos acordos, cuja legalidade será questionada.
Além disso, o governo vai tentar mostrar que já pagou a suposta dívida acordada. Alagoas foi o único Estado do país que restituiu impostos que os usineiros pagaram e que foram considerados ilegais pelo Supremo Tribunal Federal.
No entendimento de Estados como São Paulo, Paraná e Pernambuco, não havia necessidade de fazer a devolução dos créditos de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) porque o extinto IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), que monopolizava o setor, já embutia no preço pago pelo açúcar e álcool o valor referente ao imposto.
O governo alagoano vai tentar provar na Justiça que os acordos pagaram em duplicidade o ICMS aos usineiros.
Como a disputa judicial pode demorar anos, Barros determinou à Secretaria de Fazenda que comece hoje a cobrar os impostos do setor. Porém, isso não será possível devido à greve dos servidores estaduais, entre eles os ficais de renda.
O fim dos acordos é uma condição essencial para que o governo federal injete dinheiro novo para que Barros inicie um programa de regularização dos salários.
O presidente do Sindicato da Indústria de Açúcar e do Álcool de Alagoas, Jorge Toledo Florencio, afirmou que os usineiros podem recorrer de qualquer decisão judicial cancelando os acordos do setor com o governo alagoano. Porém, admite que os usineiros não têm uma posição unificada sobre o fim dos acordos.
Segundo ele, isso é impossível pois os acordos na realidade são contratos individuais das usinas com o governo. "Cada advogado de usina terá uma estratégia diferente de defesa dos acordos."
Barros tentou transformar o anúncio do rompimento dos acordos em um sinal de que um novo tempo administrativo e político se instalou em Alagoas.
Barros anunciou também que vai exonerar hoje todo o seu secretariado. Ontem, ele convidou o ex-governador Teobaldo Barbosa para ocupar a a secretaria do Gabinete Civil. Barbosa recusou o convite alegando problemas de saúde.
O governador interino disse que pode renomear secretários da equipe do governador licenciado, Divaldo Suruagy (PMDB). O único nome garantido é o do secretário da Fazenda, Roberto Longo, nomeado há 35 dias numa intervenção informal do governo federal.
Barros se reúne hoje pela primeira vez com lideranças dos servidores grevistas, inclusive com a presença de representantes das polícias Civil e Militar.
Ele vai pedir "trégua" e anunciar que paga uma folha salarial em atraso até segunda-feira e outros dois meses até o dia 15 de agosto, prazo dado pelo governo federal para que Barros conclua o ajuste fiscal, única forma de o Estado não sofrer intervenção.
(ARI CIPOLA, VANDECK SANTIAGO e RODRIGO VERGARA)

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