São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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Militares já preparam suas reivindicações por salário

Ministérios da área calculam perda de 36,05% desde 1995

RUI NOGUEIRA
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A próxima dor de cabeça salarial do presidente Fernando Henrique Cardoso, depois do movimento grevista das PMs, não tem data marcada para acontecer mas já tem personagem: os próprios soldados das Forças Armadas que enfrentam os policiais militares e têm salários tão defasados quanto os dos PMs.
As Forças Armadas estão há dois anos e meio sem qualquer aumento e, pelos cálculos feitos nos ministérios militares, acumulam, de janeiro de 95 a maio deste ano, uma perda de 36,05%.
Nos quartéis e repartições públicas, por enquanto sem quebra da disciplina e hierarquia, os militares já começaram a demonstrar junto aos comandos descontentamento com o congelamento salarial a que estão submetidos.
Um soldado ganha R$ 300 brutos. Um coronel com 30 anos de Exército ganha R$ 3.200 -não chega a R$ 2.500 líquidos. O mais alto cargo nas Forças Armadas -general-de-Exército, tenente-brigadeiro (Aeronáutica) e almirante-de-esquadra (Marinha)- recebe cerca de R$ 4.500.
Esses salários incluem gratificações por conta de especializações, cargos, cursos de aperfeiçoamento e auxílio-moradia.
Sem os adicionais, o soldo, que é o salário-base, vai de R$ 50,40 (soldo do aprendiz-marinheiro e dos alunos de órgãos de formação de praças de reserva) a R$ 618, que é o salário dos mais altos cargos (generais, almirantes e tenentes-brigadeiros).
Mulheres
A pressão dos militares começa a ser deflagrada hoje à noite com a reunião marcada para as 20h30, em um edifício residencial de uma quadra da Asa Norte, em Brasília.
A reunião está sendo convocada com apoio do capitão da reserva e deputado Jair Bolsonaro (PPB-RJ) e o "convite" é dirigido aos militares e às mulheres dos militares.
É a mesma tática de um movimento organizado em abril de 92 e que conseguiu um aumento escalonado de 80% -as reuniões começam com os familiares, aparentando distância dos quartéis.
"O que nos angustia é que não há qualquer perspectiva de reajuste, apesar de estarmos sem aumento há dois anos e meio, e as tarifas públicas não param de aumentar", disse Bolsonaro.
O último encontro do governo, reunindo representantes dos militares e da equipe econômica, em que foi discutida a questão salarial dos servidores públicos civis e militares, foi no dia 4 de março. O aumento foi descartado.
A outra chance, mas também a longo prazo, é uma combinação de dois fatores expressos ontem por um comandante à Folha: a sensibilização do governo com o desempenho dos militares cada vez que são chamados para fazer um "trabalho sujo" -controle dos movimentos dos sem-terra e das PMs e desarmamento de garimpeiros, por exemplo- e a aprovação de projeto que separa servidores civis e militares.

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