São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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SUSPEITOS E CULPADOS

O acidente com o vôo 283 da TAM despertou, compreensivelmente, grande comoção pública. Desde então, o destaque dado ao caso pela mídia justifica-se pela necessidade de que as pessoas sejam informadas a respeito das causas do acidente e de que saibam, além disso, se há e quem são os seus responsáveis.
Ocorre que, motivada pelo ambiente de concorrência e pressionada pela ansiedade da sociedade em acompanhar "as últimas novidades", a mídia comporta-se muitas vezes de maneira precipitada, divulgando indícios como se fossem provas conclusivas, tratando suspeitos como se já fossem culpados.
Já se comparou, com razão, a atuação da mídia nesses casos ao trabalho dos bombeiros, que, no afã de salvar as vítimas de um incêndio, acabam danificando vidraças, tapetes e quadros de um edifício. No caso do acidente da TAM, o que precisa ser "salva" é a apuração da verdade -e isso atenuaria pequenos "deslizes" operacionais.
Ora, quando esses "deslizes" ameaçam destruir a imagem de um ser humano, não importa quantas suspeitas recaiam sobre ele, eles deixam de ser "deslizes"; tornam-se, antes, um sério problema ético.
O tratamento que vem sendo dispensado ao professor Leonardo Teodoro de Castro, um dos passageiros do vôo da TAM, apontado hoje pela polícia como suspeito, é, nesse sentido, preocupante.
O que está em questão, aqui, é a forma apressada, ou irresponsável, com que se está vinculando a vida íntima do professor Leonardo ao acidente, condenando-o perante toda a sociedade antes de que as investigações policiais e procedimentos legais sejam levados a cabo.
É crescente na opinião pública e em parcela significativa da mídia a consciência de que a atividade jornalística deve pautar-se segundo rígidos critérios éticos. Cumpre a todos zelar para que, também na cobertura do acidente da TAM, essa saudável demanda coletiva venha a ser respeitada.

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