São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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A ESQUERDA E O DÉFICIT

A esquerda européia parece estar se rendendo ao bom senso, ao aceitar que equilíbrio orçamentário não é questão ideológica, mas necessidade. É a principal constatação que emerge das medidas anunciadas primeiro pelos trabalhistas britânicos e, ontem, pelos socialistas franceses.
Em ambos os países, o eixo é manter ou tentar restaurar um déficit público razoavelmente reduzido.
É verdade que os socialistas franceses mantiveram um bom equilíbrio orçamentário durante a gestão Mitterrand. Mas as promessas de seus herdeiros, na campanha, pareciam indicar que os socialistas, reconduzidos ao governo, cederiam à tentação de gastar mais, para preservar a simpatia do eleitorado. Não cederam, a julgar pelos planos.
É forçoso observar que talvez seja equivocado o caminho escolhido para reduzir o déficit, que caminhava entre 3,5% e 3,7% do PIB.
Em vez de cortar gastos, o premiê Lionel Jospin preferiu aumentar impostos. É verdade que não o fará indiscriminadamente. Dois terços do adicional de arrecadação virão da elevação do imposto sobre lucro das grandes empresas (20% do total).
Além disso, é uma sobretaxa provisória, batizada de "euroimposto", porque se destina a permitir que a França fique, em 97, com um déficit igual ou pouco superior a 3% do PIB.
Um déficit de no máximo 3% do PIB é um dos critérios essenciais para que cada país europeu seja admitido na primeira leva do euro -a moeda única a ser adotada a partir de 1999.
Com o pacote de ontem, Jospin apenas ganha tempo. Mantém intacto o discurso de campanha, ao não tocar no generoso programa de bem-estar social. Mas, como se trata de um pacote com nítido caráter emergencial, só adia as decisões.
Só então se poderá saber se a esquerda, ao menos a francesa, descobriu a fórmula mágica para, ao mesmo tempo, equilibrar o orçamento e preservar o máximo possível do Estado de Bem-Estar Social que é o justificado orgulho da Europa.

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