São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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Mandar o Pires

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - É um ciclo que se abre. Até aqui, FHC foi refém da política neoliberal cujo braço executivo são os investidores e especuladores internacionais, somados à prata da casa.
São esses que integram as forças de sustentação política do governo, esquematicamente agrupados no PFL, PSDB, em fatias de outros partidos. Além -é claro- dos tecnocratas, guarda-livros e o grosso do mais grosso do empresariado.
Contrariando pesquisas que indicam apoio ao Plano Real e ainda grande taxa de popularidade ao presidente, estouram em todo o país movimentos de rebelião que há muito não ocorriam no país. Tanto em Minas, Pernambuco e principalmente em Alagoas, a situação atingiu tensão pararrevolucionária. Governadores permaneceram sitiados em palácio -liturgia final de todos os golpes de Estado de esquerda ou direita.
A solução não foi "chamar o Pires", mas mandar o Pires. O ministro do Exército surge de repente como garantidor supremo da ordem. Foi e será mandado aos focos principais da crise -que afinal se alastra em todos os Estados e conta com o silencioso, mas fundamental apoio da chamada sociedade civil, também ela esmagada pelo achatamento salarial e pela angústia do desemprego.
Houve erro de avaliação do governo e de seus estrategistas ao considerar que a estabilidade da moeda marcaria uma hégira na vida do povo. Pode ter sido o paraíso para os grandes empresários e o foi certamente para os especuladores. A panela de pressão atinge a perigoso limite. Por causa de uma sopa, marinheiros do tzar foram mortos no cais de Odessa. PMs brasileiros poderão ser mortos pelo equivalente.
Aos que não lembram: chamar o Pires era o recurso de um general-presidente quando enfrentava dificuldades. Pires era o ministro do Exército, tal como Lucena. Refém da especulação e do patronato, FHC pode ficar refém dos militares.

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