São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 1997
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Não se demite um sócio

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Ninguém com um QI superior ao de Forrest Gump acredita que FHC tenha passado uma descompostura em Sérgio Motta.
É impossível imaginar FHC dizendo algo como "Sérgio, você passou dos limites na entrevista que deu à 'Veja'. Terei de demiti-lo se isso se repetir".
Mas, como nunca será divulgada a versão integral do encontro, é ocioso ficar aqui tentando psicografar o que os dois conversaram.
Mais relevante é tentar entender qual foi a motivação de Serjão ao disparar seus torpedos.
Há várias hipóteses, sendo duas delas as principais:
1) uma só pessoa - FHC e Serjão seriam quase uma entidade única. Só que um fala demais. E, portanto, as declarações não foram nada além de uma incontinência verbal;
2) inabilidade - Serjão é um político rastaquera. Desses que fazem análise de conjuntura contando votos no Congresso. Acha que, por ter sido de esquerda, é bom articulador.
Independentemente de uma ou outra hipótese ser a mais correta -ou até de as duas se completarem-, uma coisa já é certa. Serjão continuará o mesmo. Vai se calar por uns dias. Mas logo volta. É da sua natureza.
Quanto ao episódio, estará diluído em dias. Cada um dos criticados fará o seu beicinho, que logo vai murchar com o silêncio de Serjão -e com o suposto pito que o Planalto dirá que FHC passou no ministro.
O único efeito prático perene de tudo isso é que se consolida aquilo que faz o governo tremer de medo. Trata-se da imagem de um presidente fraco diante de um ministro mais forte do que ele.
Um ministro desses que são indemissíveis. Afinal, são raros, se é que existem, casos de um sócio demitindo o outro. E a ligação de FHC com Sérgio Motta parece ter sido desenhada para durar para sempre.
*
Agora vai. O jornal "O Globo" noticiou ontem que Moreira Ferreira, da Fiesp, quer ser deputado federal pelo PFL. É a união da modernidade industrial com a modernidade política.

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