São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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ÉTICA E CLONES

Em fevereiro, pesquisadores britânicos surpreendiam o mundo anunciando o nascimento da ovelha Dolly, o primeiro mamífero obtido por meio de técnicas de clonagem.
As discussões éticas ensejadas por conta de Dolly ganharam as manchetes da imprensa mundial, e um amplo debate sobre o limite desse tipo de experimento, sobretudo em relação a seres humanos, foi aberto.
Apenas seis meses depois, enquanto, pelo menos nos meios acadêmicos, o debate prosseguia, cientistas dos mesmos centros responsáveis por Dolly anunciaram que veio à luz Polly, uma outra ovelha, também obtida por clonagem, mas cujas células receberam genes humanos.
Do ponto de vista do avanço das ciências, esse novo e importante feito, ainda que para a mídia menos espetacular, é mais importante que o anterior. Juntam-se num único experimento duas técnicas de ponta e que provocam profundas reflexões éticas. Em tese, Polly poderá produzir proteínas utilizáveis em tratamentos médicos de seres humanos.
Se o intervalo de apenas seis meses bastou para a criação da ovelha com genes humanos, esse lapso de tempo nem mesmo arranhou as intricadas discussões éticas sobre os limites da intervenção humana na evolução, agora com ares de ficção científica.
O espectro de Dolly e Polly carrega a sombra de grandes pesadelos da humanidade, imaginados, por exemplo, em "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley.
Cogitar de proibir experimentos, como ocorreu durante o ressurgimento da ciência no fim da Idade Média, é agir mais ou menos como o fizeram diversas instituições. De outro lado, imaginar que os cientistas são neutros e que suas ações não encerram problemas éticos seria tolice.
O progresso da ciência, hoje, é mais veloz que as discussões a seu respeito; o que apenas exige que se definam com mais urgência os limites da intervenção humana sobre a vida.

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