São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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Os sem-alternativa

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - É facílimo explicar por que o PFL decidiu encerrar rapidamente a crise provocada pela entrevista do ministro Sérgio Motta, ainda por cima cantando vitória: tanto o PFL como os dois outros grandes partidos da base governista (PSDB e PMDB) não têm alternativa que não seja a de permanecer agarrados, o mais firmemente possível, a Fernando Henrique Cardoso.
Nenhum dos três tem outro caminho para continuar no poder, agora ou a partir de 1998. Logo, todas as supostas crises jamais passarão de choro, ranger de dentes, amuos, fingimento.
Romper com o presidente, nem pensar. Entre as muitas práticas lamentáveis da política brasileira está a de jamais rasgar dinheiro, mesmo que o dinheiro, no caso, seja apenas a perspectiva de deputados e senadores se reelegerem, carregados por um candidato presidencial fortíssimo como FHC o é.
O PPB, outro partido governista, ainda tem a alternativa Paulo Maluf, mas é frágil demais para entusiasmar qualquer um de seus parlamentares.
Mais difícil é explicar por que FHC não dá um bico em certos aliados. Ele, mais do que ninguém, sabe que os partidos de sua base dependem dele muito mais do que ele depende dos partidos.
A lengalenga de que, sem a tal base parlamentar, o presidente não aprovaria reforma alguma é pouco séria. Se FHC endurecesse, os partidos que o apóiam não teriam alternativa a não ser continuar com ele, aumentando apenas o choro e o ranger de dentes (e, eventualmente, o preço).
Suspeito que a causa para a acomodação presidencial passa muito mais pelo território da psicologia do que da política. FHC é visceralmente contrário ao confronto. Foge dele desde criancinha, o que não é figura de linguagem, mas um raciocínio autorizado pela sua laudatória biografia, escrita por uma jornalista francesa.
Por isso, aceita as ceninhas dos aliados. Até porque custa-lhe muito pouco enxugar as lágrimas deles todos.

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