São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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Saco de gatos

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A imagem é batida, mas adequada. O tão louvado governo de FHC transformou-se num saco de gatos: só existe em função das crises que se sucedem, algumas pequenas ou médias, outras cabeludas como a desta semana.
E o mais lamentável é que elas não são causadas por divergências técnicas ou operacionais, por conceitos de como melhor administrar o país. São simples fofocas, desabafos de comadres e vizinhas ressentidas, um lavar de roupa suja que compromete a classe política como um todo e o governo em particular.
No fundo, são crises internas (ia dizer "intestinas"), no ventre do poder. E motivadas por nada -pois o governo não tem obras planejadas, metas a alcançar, prazos a cumprir, a não ser o do continuísmo.
As decantadas reformas -que formam o ideário da classe dirigente- não serão feitas porque a única reforma que interessava a FHC já foi feita -e a classe política, como um todo, caiu como um patinho tolo e só não foi otária completamente porque alguns parlamentares reformistas aproveitaram a confusão e descolaram um dinheirinho extra por conta do mesmo Sérgio Motta que banca o novo Adão dando nome às coisas.
Até que desta vez ele distribuiu substantivos e adjetivos aplicáveis à turma do poder. A crise não explodiu quanto ao mérito do desabafo, mas quanto à sua conveniência. E aí temos a crise dentro da crise: se FHC -como todo mundo supõe- mandou recados tão explícitos aos partidos e lideranças que o apóiam, parece que não foi devidamente entendido.
Daí que também se pode supor o óbvio: mais algumas semanas e teremos novamente Sérgio Motta chamando ministros de incompetentes e partidos que compõem a base do governo de fisiológicos.
E tudo continuará na mesma, donde se pode concluir que o incompetente e fisiológico é o próprio presidente da República.

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