São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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A vida e o trânsito

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A vida é dom precioso de Deus. Por que abreviá-la? Os acidentes de trânsito multiplicam-se cada vez mais nas estradas e cidades.
No percurso de duas horas, há três dias, de Barbacena a Ouro Preto, contamos nove desastres. Basta ler os jornais para perceber o número de mortos e feridos, vítimas a cada dia da violência nas estradas, num total de 30 milhões de acidentes por ano.
O respeito à vida própria e do próximo deve-nos levar a refletir sobre o nosso comportamento e corrigi-lo. Tem havido semanas educativas sobre o trânsito em várias cidades. Urge, em vista do bem comum, promover uma campanha em nível nacional.
Temos todos experiência do que acontece no trânsito. Também eu, por obrigação de ofício, gasto muitas horas por semana nas estradas. Sofri dois graves acidentes em 1976 e 1990 e sinto o dever de agradecer a Deus e cooperar para humanizar o trânsito.
Há um conjunto de fatores que precisa de nossa atenção.
Começamos pelas estradas. Encontram-se em estado precário. A sinalização é falha, principalmente à noite. Falta a faixa de acostamento. Depressões e buracos permanecem meses e meses sem conserto. Nas estradas que frequento, não raro, animais percorrem a pista provocando colisões, às vezes fatais.
A causa mais frequente, no entanto, de desastres é a imprudência do motorista. 90% dos acidentes são provocados por falhas humanas. Falta preparo técnico e obediência às leis.
Carros e caminhões correm sem controle de velocidade, em competição, com ultrapassagens arriscadas e sem visibilidade. A incidência mais dramática é devida aos caminhões que fazem longos percursos sem descanso e se deslocam prepotentes sem atender aos carros menores. Famílias inteiras têm sido esmagadas pelas toneladas de possantes caminhões, incapazes de frear em alta velocidade.
Ainda nesta semana, no Hospital de Nova Iguaçu (RJ), entravam 17 feridos no desastre, no qual outros 14 morreram entre as ferragens do ônibus.
Quem não percebe a necessidade de medidas mais rigorosas para coibir esses excessos? Requer-se a reeducação dos motoristas e exames periódicos e severos de habilitação. Que dizer sobre o crime de quem dirige alcoolizado? É preciso maior rigor para coibir os que perseveram nessa situação.
Nem sempre a culpa é dos motoristas.
O pedestre, principalmente nas cidades, tem, de fato, que assumir o cumprimento das leis do trânsito, aguardar o sinal, respeitar as faixas, utilizar a passarela.
No caos do trânsito, preocupa-nos, em especial, a condição das crianças e dos idosos. Como é difícil aos portadores de deficiência atravessar uma rua movimentada ou alcançar o degrau do ônibus. Precisam contar com a atenção e paciência dos motoristas e demais passageiros.
Ontem, 25 de julho, foi dia do Padroeiro dos Motoristas. São Cristóvão, que auxiliava os viajantes na travessia do rio, ajude-nos todos a nos movimentar com segurança no fluxo perigoso das estradas e a chegar ao destino sem acidentes. Proteja os vigilantes do trânsito e os guardas rodoviários.
Abençoe os motoristas para que guiem com prudência e sintam-se responsáveis pela vida dos demais como se levassem o próprio Cristo.
São Cristóvão, rogai por nós e ajudai-nos a preservar o dom da vida.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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