São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Universidades gratuitas

TOMAZ AROLDO DA MOTA SANTOS; JACYNTHO JOSÉ LINS BRANDÃO

TOMAZ AROLDO DA MOTA SANTOS
JACYNTHO JOSÉ LINS BRANDÃO
Algumas vozes têm propalado a introdução do ensino pago nas universidades públicas brasileiras. Essa idéia se apóia em proposta similar de agências internacionais, entre as quais o Banco Mundial (veja-se, a propósito, a publicação "Financiamento de la Ensenanza Superior").
Sugere-se ainda que o poder público não tem recursos para financiar a expansão do ensino superior. Ora, estudos indicam que o pagamento de anuidades nas universidades públicas "por aqueles que podem pagar" cobriria parte pouco significativa dos custos.
É certo que esses custos são mais elevados que os de instituições que se dedicam tão somente ao ensino de graduação - que é, diga-se de passagem, uma das mais nobres missões universitárias, quando realizada com excelência. Mas as universidades públicas, além do ensino, desenvolvem ampla e dispendiosa gama de atividades, cabendo destacar, entre outras, a extensão cultural e a prestação de serviços à sociedade, como a realizada, por exemplo, pelos hospitais universitários; a pesquisa artística, filosófica, científica e tecnológica, a formação de cientistas e de recursos humanos de alto nível.
Parece-nos, pois, que o ganho financeiro com a adoção do ensino pago é irrelevante diante da demanda atual e futura por acesso ao ensino superior.
Pensamos que, nas condições atuais, alguma expansão já é possível e vem sendo feita pelas universidades federais.
É possível que a adoção de novas regras de gestão acadêmica, administrativa e financeira, no contexto da autonomia, possa ampliar essa capacidade. Além disso, é necessário que se criem novas instituições, destinadas a absorver a explosão de demanda existente.
Gostaríamos também de considerar o argumento utilizado na discussão, de que o curso superior capacita o indivíduo a ganhar melhores salários no mercado de trabalho e que, por esse ganho futuro, o estudante deve pagar.
Nesse argumento há um erro: admitir que o investimento em educação não visa a objetivos coletivos e sociais, mas individuais. É como se o país investisse na formação de médicos ou de professores não porque eles vão cuidar da saúde e da educação da população, mas porque vão ganhar mais. Sendo assim, caberia a cada qual escolher o curso mais recompensador em relação ao seu investimento em anuidades.
É de esperar que essa idéia não prospere, pois é destituída de sentido público. Devemos esperar que ela não encontre apoio entre as lideranças do país, que têm como principal responsabilidade a coordenação e supervisão da educação no Brasil, ensejando amplo debate capaz de delinear os rumos necessários ao ensino superior público e gratuito neste país.

Tomaz Aroldo da Mota Santos, 53, é reitor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior.

Jacyntho José Lins Brandão, 44, é vice-reitor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Texto Anterior: Debate defende mudanças no 2º grau
Próximo Texto: Exame evita sífilis congênita
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.