São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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Emerson supera acidente

FÁBIO SEIXAS
DO ENVIADO A BROOKLIN

O carro indo sem controle em direção ao muro e um choque forte.
Um ano depois do forte acidente que sofreu no superoval de Michigan, Emerson Fittipaldi, 50, finalmente parou de ter pesadelos.
Segundo o bicampeão da F-1 (72 e 74) e campeão da Indy (89), o período que passou desde o acidente serviu para uma maior aproximação com a família e também para expansão dos negócios.
Ainda fazendo trabalho de fisioterapia para recuperar totalmente os movimentos de seu braço direito, o veterano piloto faz mistério sobre seu futuro nas pistas.
Não esconde, no entanto, sua empolgação depois de ter participado de uma demonstração com um carro da Penske na Inglaterra.
"Foi emocionante. Fiz o segundo melhor tempo."
No início do mês, anunciou que sua empresa, a Fittipaldi International, passará a cuidar da carreira do brasileiro Hélio de Castro Neves, líder desta temporada da Indy Lights.
O objetivo é passar a empresariar pilotos que têm potencial, cuidando das negociações com equipes e patrocinadores. Ao piloto, resta a missão de acertar o carro e pilotar.
A iniciativa foi criticada por Nelson Piquet, tricampeão na F-1 (81, 83, 87)
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à Folha.
(FSx)
*
Folha - Dia 28 (hoje), seu acidente em Michigan completará um ano. O que a data significa para você?
Emerson Fittipaldi - Vou completar um ano de vida. Eu nasci de novo. Foi uma coisa marcante, que mudou completamente minha rotina. Muitas vezes, acabo esquecendo a data do aniversário de alguma pessoa. Mas as datas dos meus acidentes, não esqueço nunca. São coisas que não dão para esquecer.
Folha - Como foi voltar ao cockpit de um carro no mês passado, durante uma exibição na Inglaterra?
Emerson - Eu participei do Festival de Goodwood e fiquei muito emocionado. Mexeu muito comigo. Estava pilotando sem preocupação e, depois, fui saber que fiz o segundo tempo, com o carro que a Penske utilizou no ano passado. O melhor tempo foi de um McLaren. E eu fiquei a menos de meio segundo. Fui superior a um Williams e um Jordan. A vontade de voltar a pilotar veio muito forte.
Folha - Um ano após o acidente, quais foram as principais mudanças que se passaram na sua vida?
Emerson - Este ano foi muito bom em relação à minha família. Pude passar mais tempo convivendo com todos. Para os negócios, também foi um período excelente.
Folha - Você acha que seu acidente, de alguma forma, contribuiu para melhorar as condições de segurança nos autódromos e carros da Indy?
Emerson - Não. Michigan está a mesma coisa do ano passado. Aquele meu acidente não tinha como ser evitado. O carro, no ano passado, já era muito forte. Senão, eu não estaria aqui agora.
Folha - Você acha que os pilotos da Indy tiveram algum aprendizado após o seu acidente?
Emerson - A grande lição foi que eu estava usando dois cintos presos ao capacete, além do cinto de segurança. Acho que hoje, todos os pilotos estão fazendo igual.
Folha - Depois de um acidente forte como aquele do ano passado, o que fica marcado na sua memória?
Emerson - Você lembra de tudo, como se fosse um videoteipe que fica rodando dentro da sua cabeça. Cheguei até a ter alguns pesadelos sobre o acidente.
Folha - Você agora é empresário do Hélio de Castro Neves, líder do campeonato da Indy Lights. Como estão as negociações com equipes para o ano que vem?
Emerson - O Helinho tem uma cabeça muito boa. Teoricamente, ele vai estar na Indy no ano que vem. Estamos conversando com duas ou três equipes para 98.
Folha - Como você reagiu às críticas do Nelson Piquet, que disse que sua intenção era apenas tomar dinheiro de um piloto novo?
Emerson - (risadas)Vou ceder para o Nelson Piquet 50% do que eu tomar do Helinho. O Nelson é muito brincalhão. Ele sabe que eu estou fazendo uma coisa profissional. Mas pode avisar que eu vou dar cinquentinha para ele.
Folha - Na sua opinião, por que nenhum brasileiro venceu ainda este ano?
Emerson - As circunstâncias não fizeram nenhum dos brasileiros ganhar. Talento existe. As equipes dos brasileiros são boas. Veja o que aconteceu com o Christian (Fittipaldi) em Cleveland, por exemplo. Ele tinha carro para ganhar, mas o macaco enguiçou e acabou com todas as chances dele.
Folha - Você já tomou alguma decisão sobre voltar a competir?
Emerson - Não. Estou fazendo fisioterapia, mas meu braço e minha mão direita ainda não estão em condições ideais. Hoje, no máximo, posso dar umas dez voltas em uma pista. Uma corrida inteira, por enquanto, não aguento.
Folha - O que seus médicos informam sobre suas condições físicas?
Emerson - Eles ainda não sabem dizer quando vou estar 100%. Eu tenho corrido todos os dias. Duas semanas atrás, corri na praia, no Rio de Janeiro. Fiz uma dieta e estou magro. Estou a mil.

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