São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Perdoem-nos

HENRY I. SOBEL

Leio com profundo pesar as últimas notícias que nos chegam de Israel: "Ativista judia distribui cartazes retratando o profeta Maomé como um porco"... "Revista israelense publica fotomontagem profanando a imagem da Virgem Maria"... "Colonos judeus suspeitos de destroçar exemplares do Alcorão"...
No Yom Kippur, Dia do Perdão, o dia mais sagrado do calendário judaico, somos ordenados a pedir perdão pelas faltas cometidas durante o ano que passou. E o fazemos por meio de uma longa confissão de pecados, que recitamos coletivamente, toda ela formulada no plural: "Pelo pecado que cometemos", não "pelo pecado que cometi".
Por quê? Os rabinos explicam que, se um único judeu é culpado de determinada transgressão, todos os outros também têm que assumir a culpa. O conceito da responsabilidade coletiva é essencial na doutrina judaica.
Mas por que tais reflexões teológicas agora, se o Dia do Perdão só cai em outubro, neste ano? É porque há certos atos que exigem uma confissão imediata de culpa.
Pelo pecado que cometemos ao desrespeitar a santidade do credo alheio;
pelo pecado que cometemos ao considerar sagradas somente nossas próprias crenças e desprezar as crenças alheias;
pelo pecado que cometemos ao pisar as tradições religiosas de outros;
pelo pecado que cometemos ao deixar nosso idealismo descambar em fanatismo;
pelo pecado que cometemos ao agir com insensibilidade aos sentimentos dos outros;
pelo pecado que cometemos ao fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem conosco;
pelo pecado que cometemos ao esquecer as lições da nossa própria história e a dor que sentíamos quando outros nos ridicularizavam por acreditarmos naquilo em que acreditávamos;
pelo pecado que cometemos ao violar o mandamento da nossa Torá, "amarás ao próximo como a ti mesmo";
pelo pecado que cometemos ao colocar pedras no caminho de tantos judeus, cristãos e muçulmanos que vêm se empenhando pela reconciliação.
Por tudo isso, ó Deus da misericórdia, perdoa-nos, absolve-nos, expia-nos!
E perdoem-nos, irmãos muçulmanos e cristãos no mundo inteiro, pelas graves ofensas que lhes fizeram alguns judeus.

Texto Anterior: Rio: o brilho da verdade
Próximo Texto: Informação improcedente; Imprecisões; Discussão saudável; Mundo animal; Protesto; Nomes; Panfleto; Mau gosto; Polly
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.