São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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BOM PARA OS OLHOS

A remoção de camelôs em diversos pontos da avenida Paulista, iniciada pela Prefeitura de São Paulo na segunda-feira, equaciona de forma equivocada os problemas vividos por esse segmento. Sem ignorar que não há soluções fáceis para as atuais pendências, é inegável que as declarações inaceitáveis do atual secretário das Administrações Regionais dão cabal evidência a esse equívoco.
Alfredo Mário Savelli desabona indiscriminada e irreversivelmente a todos os ambulantes, ao pontificar que "não existe espaço na cidade para as pessoas sem qualificação profissional", uma vez que "o perfil econômico (de São Paulo) mudou".
O secretário recomenda, então, que eles se transfiram para outras regiões, citando, como exemplo, o interior de São Paulo, o sul de Minas e cidades "menores" como Fortaleza. É indisfarçável o cunho preconceituoso dessa recomendação, que ignora os reais problemas enfrentados por essa categoria e, ao mesmo tempo, prepotentemente, relega para outros lugares, com demandas econômicas e produtivas supostamente inferiores, uma mão-de-obra considerada desqualificada.
Ademais, essa recomendação autoritária, para dizer o menos, não esconde o desejo de realizar uma mudança apenas cosmética na avenida Paulista, tida como um símbolo da cidade, em vez de cuidar de uma regulamentação precisa e de uma fiscalização mais rigorosa que, afinal, permitam um melhor tratamento da questão. A Prefeitura de São Paulo parece, pois, mais interessada na própria versão de "assepsia étnica" do que nos problemas específicos que, por mandato popular, caberia a ela própria resolver.
Fica claro, pois, que a pura e simples remoção dos camelôs, sem que se lhes ofereçam alternativas para proverem seu sustento, está longe de ser uma "forma humanitária e consensual" para lidar com o problema, conforme preconizou o prefeito.

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