São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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Ajoelhando Henrique Cardoso

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - O lobby da batina é mesmo infernal. Tanto fez que emplacou mais uma. Na semana passada, FHC sancionou lei que regulamenta o ensino religioso nas escolas de 1º grau.
A nova lei injeta definitivamente a disciplina de religião no currículo escolar. Uma concessão ao atraso. E ainda autoriza Estados a pagarem a conta. Uma mordida no erário.
O ensino religioso não é propriamente novidade entre nós. Existe em cerca de 20 Estados. Transformou-se em cabide para padres exaustos do próprio ócio. A grossa maioria é remunerada.
Em dezembro de 96, o Congresso aprovara dispositivo segundo o qual as aulas de religião seriam ministradas "sem ônus para os cofres públicos". A igreja arcaria com os custos.
O governo tucano de São Paulo, um dos poucos que resistem à cruzada do clero em direção às salas de aula, festejou. A CNBB, abespinhada, rodou a batina. Em represália, opôs-se à venda da Vale e apoiou a marcha dos sem-terra.
Em briga aberta com o governo federal, chegou mesmo a desferir golpes abaixo da linha da cintura. Como o documento que deixou vazar de sua última assembléia, em Itaici, apontando "corrupção" na tramitação da emenda da reeleição.
Sob sólida pressão, o Congresso voltou atrás. Aprovou nova lei. Os parlamentares excluíram a expressão "sem ônus para os cofres públicos". FHC também recuou. Aceitou assinar o novo texto, que traz as digitais da carolagem.
A lei diz que as aulas serão ecumênicas. Tolice. A menos que se transforme a escola numa babel religiosa, com professores evangélicos, judeus, muçulmanos, budistas...
Ao imiscuir-se entre os alunos, a igreja tolhe o sagrado direito do adolescente de escolher, sob a influência exclusiva dos pais, a crença de sua preferência. Ou, por outra, o direito, igualmente sagrado, de não ter crença nenhuma.

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