São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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O eleito errado

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Um leitor dirigiu-se à Redação para estranhar que alguns colunistas da Folha acreditam que o povo não sabe votar -citou os três, que habitualmente ocupamos espaço na página de Opinião, como partidários do preconceito que andou em moda no regime militar.
Mesmo sem procuração do Clóvis e do Fernando, gostaria de explicar a esse e a outros leitores, irritados com as críticas feitas ao presidente da República, que o problema não é do povo que elege e sim do político que é eleito.
Para ficarmos na última eleição. O povo, em sua maioria, votou certíssimo num homem que parecia sincero e ligado às causas populares. Votou num candidato que prometia solenemente os cinco dedos de sua mão que salvaria o país, ou seja, saúde, educação, transporte, segurança e trabalho.
Como não votar num homem desses que todos diziam sincero e honesto? Logo, o povo votou certo. O eleito errado foi o FHC, que emergiu das urnas com um discurso radicalmente oposto ao de sua carreira política e, sobretudo, às suas promessas de candidato presidencial.
Como poderia o povo saber que as atitudes daquele sociólogo eram apenas uma surfada em busca do poder? FHC havia aderido ao socialismo até que de modo um pouco fundamentalista, porque estava crente que a esquerda era a via mais próxima e inevitável do poder -uma bobagem que andou em voga no início dos anos 60. Com o golpe de 64 ele não teve tempo de mudar de lado. Esperou hora e vez.
Não se pode cobrar do povo uma informação mais precisa sobre a carreira do eleito. No PMDB, ele teria de dar vez a Ulisses e Quércia, por isso foi parar no PSDB. Mas para chegar ao poder precisava do PFL e de interessados em outros partidos fisiológicos.
Como se vê, o povo mais uma vez votou certo, num candidato que lhe parecia o melhor. Quem não soube ser votado foi o eleito.

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