São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
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Reajuste a policiais gera 'efeito cascata' nos Estados

DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA

Em SP, MG e MS, servidores estaduais usam aumento às polícias como argumento para pedir mais salário

Reajuste a policiais geram 'efeito cascata' nos Estados
O sucesso parcial de movimentos de policiais grevistas em dez Estados está estimulando um "efeito cascata", com múltiplas reivindicações de servidores públicos estaduais pelo país.
"O Estado não tem como falar que não pode dar reajuste", afirma o secretário-geral da CUT (Central Única dos Trabalhadores) paulista, Carlos Ramiro de Castro.
Em pelo menos três Estados, São Paulo, Minas e Mato Grosso do Sul, os servidores estaduais já usam aumentos dados a policiais como argumento.
Desde o começo do mês, o Brasil assistiu a greves e ameaças de paralisação por parte de policiais civis e/ou militares em 12 Estados. Em apenas dois, Rio Grande do Sul (civis) e Alagoas (civis e militares), os movimentos perduram.
Nos outros, os governadores foram forçados a conceder reajustes -ainda que, em casos como o de São Paulo, os policiais não estejam satisfeitos com as propostas.
Os professores estaduais, cujas campanhas salariais começam em setembro, já discutem como vão capitalizar o movimento dos policiais a seu favor.
"Nós temos que aproveitar esse momento em que a população está sensível ao problema estadual", resume Castro.
Para ele, não é uma questão de oportunismo. "É só um reforço, mesmo porque as campanhas salariais já estavam em curso. Os servidores da saúde paulista já passaram um mês parados este ano, por exemplo", afirma.
O Fórum do Funcionalismo Estadual, entidade paulista ligada à CUT que reúne sindicatos de servidores, se reuniu ontem na sede da central sindical para discutir a estratégia a ser seguida.
"Até o fim de agosto saberemos o que fazer", diz Castro. Os professores querem um piso para 20 horas-aula semanais de cinco salários-mínimos. O valor hoje pouco supera os dois salários-mínimos, chegando a R$ 286,55.
A CUT avalia, segundo a Folha apurou, que os governadores que deram reajustes para policiais não teriam como negar para outras categorias às vésperas de um ano eleitoral -quando qualquer greve acarreta prejuízo de imagem.
O funcionalismo público estadual mineiro agendou assembléia-geral para o dia 21 de agosto, que tem como pauta principal o pedido de isonomia de tratamento em relação à PM.
Segundo o diretor da Coordenação Sindical (entidade que reúne vários sindicatos dos funcionários públicos estaduais), Renato Barros, o reajuste pedido é de 39%.
Barros diz que não está descartada a possibilidade de uma greve geral. O governo de Minas, que deu abono de R$ 45 a todos os funcionários públicos a partir de julho, diz que não tem condições de conceder novos reajustes.
Segundo a Secretaria de Estado da Fazenda, cerca de 86% da arrecadação já estão comprometidos com a folha de pagamento.
Antes do reajuste dos policiais (de 10% a 48,2%), o comprometimento da receita com salários era de 77%. A arrecadação mensal do governo do Estado é de aproximadamente R$ 460 milhões.
No Mato Grosso do Sul, maior categoria do funcionalismo público com 25 mil servidores, voltam a se mobilizar a partir de hoje. A greve dos PMs, que durou cinco dias, é o principal fator de incentivo aos professores.
"Acabou o argumento do governo de que não pode dar aumento ao funcionalismo por imposição do governo federal", disse Fátima Silva, 31, presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul.
Os professores fizeram 90 dias de greve no ano passado. Desde que assumiu, em 95, o governador Wilson Barbosa Martins (PMDB) concedeu uma antecipação salarial de 20%, dias após tomar posse.
Um professor de escola estadual com nível de 2º grau recebe R$ 168 mensais brutos.

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