São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
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Hugo Possolo brinca com culpa e perdão

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Hugo Possolo, líder dos Parlapatões, caracteriza seu texto "Só as Mães São Felizes" como uma peça judaico-cristã que trata dos 6.000 anos de culpa e perdão.
"Só as Mães São Felizes", peça que será lida pela primeira vez hoje no auditório da Folha, encerra a trilogia de Possolo sobre a morte, que começou com "Sardanapalo" (93) e teve sequência com "Zerói" (95).
"Em 'Sardanapalo' eu enfocava o homem que tinha muito a conquistar e sabia que ia morrer. Em 'Zerói' mostrei a ausência da morte. E agora, em 'Só as Mães São Felizes' optei pela narração do ponto de vista de um mendigo que já morreu", afirmou Possolo.
Esse mendigo, chamado Maneco Viraprego, é o fio condutor das quatro histórias que se intercalam em "Só as Mães São Felizes".
O texto mostra várias formas de traição, segundo Possolo. "Vai do adultério à traição entre amigos, passando por Judas que tenta provar que foi Cristo quem o traiu e não o contrário", disse.
Possolo fez uma hipérbole a partir da reportagem publicada em dezembro passado na Folha, do ex-bailarino do Cisne Negro que vive nas ruas de São Paulo como mendigo.
Na história, um advogado, amigo de Maneco, quer retomar uma herança da família Pero Lopes de Souza, que corresponde a duas Capitanias Hereditárias. "Parto desse personagem mendigo, que também é inspirado a partir dos mendigos que fazem parte do público dos espetáculos que os Parlapatões fazem nas ruas, para lançar um universo fantástico."
Outra questão que Possolo aborda é a Aids e essa é a ligação com a morte. "O advogado batalha pela herança porque sabe que a vida de Maneco vai acabar logo porque ele tem Aids."
No texto, Possolo aborda essa situação de forma cômica ou melodramática. "Todos correm risco de pegar Aids. E acho que deve ser cruel com a realidade. Faço piada da realidade. As pessoas riem primeiro sem perceber do peso do assunto que é tratado. Depois é que se dão conta. Viro lobo em pele de cordeiro."
Possolo afirmou que o texto que será lido é a segunda versão. "Todos os meus textos têm várias versões. A leitura será um teste de feedback do público e de possibilidades para os atores."
Segundo ele, é cedo para pensar na montagem. "O texto deve ser amadurecido e a leitura com o debate na sequência é parte fundamental do processo. Além disso, os integrantes dos Parlapatões trabalharam em várias montagens no ano passado e precisamos de um tempo para não correremos o risco de repetirmos fórmulas."
Para ele, o grande problema da arte é saber comunicar. "A arte já rompeu com formas, já criou novas estéticas, mas às vezes a forma toma tanto espaço que o artista se esquece do principal, que é comunicar, atingir o público. Por isso trabalho com o teatro popular", concluiu.

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