São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
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Documentário foi o início

MARTA AVANCINI
DE PARIS

Depois de ter se formado na Escola de Cinema de Lõdz (Polônia), Kieslowski dedicou os primeiros anos de sua carreira aos curtas-metragens, documentários e filmes para a TV.
A opção pelo documentário vem, diz ele em sua monografia de encerramento de curso, da busca de uma "dramaturgia do real".
Neste texto, que tem um trecho publicado no livro "Krysztof Kieslowski", lançado na França como parte das homenagens ao primeiro ano da morte do cineasta, ele fala sobre a questão.
"Não se trata mais de imitar, ou de fazer de conta, mas de apreender o real tal como ele é. Justamente com sua falta de coerência, com sua ordem e desordem. Esta é a mais moderna das estruturas."
Essa proposta será aplicada tanto aos documentários quanto aos curtas realizados por ele entre os anos 60 e 70.
Em geral, os filmes têm temas ligados ao trabalho e à política, invariavelmente abordados sob uma ótica crítica.
Ao longo de sua obra, essas questões vão perdendo espaço e são progressivamente substituídas por temas existenciais -a moral na famosa série "Decálogo" e o sentido de liberdade, igualdade e fraternidade na trilogia inspirada nas cores da bandeira francesa.
Em "O Amador" (sobre um cineasta amador) e "Sem Fim" (sobre um advogado envolvido na defesa de operários grevistas), as questões pessoais ainda são tratadas sob o crivo das macroestruturas de poder.
Isso já não ocorre em "O Acaso", filme que tem a estrutura de um conto filosófico -ele fala sobre os diferentes rumos que a vida de um homem pode tomar em três situações distintas, dependendo do acaso: se ele tomar o trem, se ele perder o trem ou se ele for expulso do trem por não possuir passagem.
(MA)

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