São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O grande divã

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Se fosse o PFL, não tinha erro: todo mundo já chegava lá com o discurso na ponta da língua, o texto final pronto, o novo presidente escolhido e os aplausos engatilhados.
Mas é o PT. Por isso, o encontro nacional de 29 de agosto, no Hotel Glória, no Rio, promete ser passional. Dessas coisas de velhos amigos que torcem por times diferentes e às vezes parecem à beira de trocar sopapos.
Atordoado com o sucesso do real, sem propostas alternativas e cada vez mais dividido, o principal partido da esquerda caminha quase que inexoravelmente para a candidatura de Lula e para mais uma derrota em 98.
É natural que pegue fogo entre a turma moderada (que odeia ser chamada de "direita") e a radical (que adora ser 'à esquerda").
Em resumo, os moderados querem ser pragmáticos, fazendo aliança com outros partidos e até com empresários nacionalistas que possam contribuir com algum para os cofres de campanha. Querem ser mais do que um movimento social. Querem disputar efetivamente o poder.
Já os radicais preferem manter-se "puros", aliando-se exclusivamente a outros segmentos de esquerda, investindo na excitação das bases e baixando o sarrafo em FHC. Mais ou menos assim: a gente leva chumbo em 98, mas não perde a pose.
O presidente do PT, José Dirceu, concorre à reeleição com apoio dos moderados e ganhou um bom reforço com a expressiva vitória do ex-prefeito Antônio Palocci, domingo, para a presidência da seção paulista.
O radical Milton Temer disputa contra Dirceu com apoio de seções importantes, como a gaúcha, a do Espírito Santo e a de Santa Catarina.
Lula, que sempre agiu como magistrado, acha que as denúncias, suspeitas e Cpems ultrapassaram todos os limites e está pronto para assumir seu lado Articulação.
Nada indica, no entanto, que a divisão interna vá ter consequências drásticas, a ponto de ceder uma fatia petista para um novo partido socialista que apoiaria Itamar Franco em 98. Dirceu está convencido de que "isso não passa de conversa mole".

Texto Anterior: A PM confessa inutilidade
Próximo Texto: A cruz de ouro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.