São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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Iris quer processo contra Stedile por declarações

Líder do MST defendeu a invasão de escolas públicas fechadas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Justiça, Iris Rezende, disse ontem que o governo vai entrar com novo pedido junto à Procuradoria Geral da República para que processe João Pedro Stedile, um dos líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), por suas declarações incitando a invasão de escolas públicas fechadas.
Anteontem, Stedile disse que os "excluídos" urbanos não podem ficar alheios "à falta de competência dos governantes", que deixam escolas fechadas.
Iris Rezende disse que Stedile vai ter de responder na Justiça por suas declarações. "Estamos vivendo um regime democrático. Todas as pessoas têm direito de reivindicar, de reclamar. Agora o governo não deixará que as pessoas, aproveitando da liberdade e da democracia, arranhem o Estado de direito, arranhem o regime democrático que custou muito sacrifício à nossa população", afirmou.
O ministro da Justiça disse ainda que "todos aqueles que extrapolarem da permissão legal naturalmente vão ser chamados pela Justiça e vão ser julgados pelos possíveis crimes praticados".
Iris Rezende evitou comentar as declarações de Stedile para não criar polêmicas. "Nós temos que analisar as declarações mais amplamente, porque outros segmentos estão a bloquear estradas, outros a invadir prédios públicos e outros a incitarem a população -no caso dele- à rebelião."
O governo já tinha pedido à procuradoria que processasse Stedile por outras declarações do líder do MST.
Há cerca de dois meses, Stedile conclamou a população a invadir terrenos baldios e invadir supermercados como forma de pressionar o governo por melhorias nas condições de vida.
"Excluídos"
Anteontem, além de defender a invasão de escolas fechadas, Stedile também conclamou os "excluídos" a formar pelotões populares para marchar em 7 de setembro. Com essas ações, Stedile disse que o MST quer mobilizar os setores sindicais e populares para mudar a política econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Devemos fazer ações para que as comunidades urbanas peguem para si a solução dos problemas de escolas fechadas", disse Stedile.
Stedile classificou essas ações como "gestos de solidariedade" a favor das populações urbanas. Também defendeu que os sem-terra participem de campanhas de doações de sangue ou façam limpeza pública nas cidades que estão em crise financeira.
Segundo Stedile, o MST vai integrar pelotões populares no protesto do Dia dos Excluídos, marcado para o Dia da Independência, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

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