São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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Conflito de policiais deixa cinco feridos em Fortaleza

IRINEU MACHADO

IRINEU MACHADO; ALETÉIA PATRÍCIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO LUÍS (MA)

Coronel Benevides, comandante da Polícia Militar, leva tiro nas costas

O comandante da Polícia Militar do Ceará e quatro outros PMs foram feridos na tarde de ontem em Fortaleza em conflito entre policiais manifestantes e uma tropa de elite da PM.
Depois do conflito, tropas do Exército foram às ruas de Fortaleza a pedido do governador Tasso Jereissati (PSDB).
Cerca de 4.000 policiais estão em greve no Estado desde ontem. Eles reivindicam aumento salarial de 66% para a PM e abonos de R$ 295 a R$ 500 para a Polícia Civil.
O coronel Francisco Mauro Alves Benevides, 43, comandante da PM, levou um tiro nas costas, perto do ombro.
O tenente-coronel Antônio Oliveira, comandante do 5º Batalhão de Policiamento, foi ferido com um tiro na perna esquerda e três soldados foram atingidos por pedradas e tiveram ferimentos leves.
A manifestação, com cerca de mil pessoas, segundo a Secretaria da Segurança (2.000, segundo os manifestantes), começou de manhã e reuniu policiais militares, civis, agentes penitenciários, integrantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e organizações não-governamentais.
No início da tarde, os manifestantes seguiam pela avenida da Abolição, entre as praias Iracema e Meireles, quando se defrontaram com o Batalhão de Elite da PM.
Segundo o subsecretário da Segurança, Francisco Sales de Oliveira, 44, no momento em que um dos policiais tentou impedir a passagem do carro de som, alguns dos manifestantes começaram a disparar tiros.
Os policiais da Tropa de Choque teriam disparado tiros para o alto e os manifestantes revidado com pedradas e tiros.
"Houve muitos tiros, mas não se configurou algo como um campo de batalha. Ainda não sabemos quem disparou os tiros que feriram os dois oficiais. Pode ser até que os autores não sejam policiais, uma vez que havia gente de fora da polícia entre eles", disse Oliveira.
Antes da manifestação, Jereissati já tinha pedido ao governo federal o auxílio de tropas do Exército, às 12h. O pedido foi reforçado depois do confronto entre os policiais. No início da noite, os soldados do Exército já estavam nas ruas.
O primeiro grupo de soldados do Exército se deslocou ontem, às 15h, para fazer a segurança do Palácio da Abolição, onde funcionam as secretarias da Segurança e da Administração.
No local, os manifestantes, liderados pelo soldado da PM Gilberto Feitosa Alves e pelo comissário da Polícia Civil Elias Alves de Lima, queriam uma audiência com o secretário da Segurança, general Cândido de Vargas Freire. O encontro não aconteceu.
No início da noite, quando os manifestantes se dirigiam ao centro da cidade, a tensão era menor, segundo o governo, e eles eram acompanhados de perto pelo Exército.
Por conta da greve iniciada ontem, os bairros de Fortaleza estão sem policiamento. Aproveitando a manifestação de ontem, ladrões assaltaram o Banco do Estado do Ceará (BEC) e o Banco Brasileiro Comercial (BBC).
Muitas delegacias de Polícia Civil foram fechadas. Os serviços por telefone 190, da PM, e 196, da Polícia Civil, não estavam funcionando.
Os PMs feridos foram atendidos no Instituto Dr. José Frota, hospital estadual de Fortaleza, e liberados ontem à tarde mesmo, à exceção do coronel Benevides.
O comandante teve uma bala alojada próximo à coluna vertebral e deve sofrer cirurgia hoje e ficar três dias em observação médica. Segundo a equipe médica que o atendeu, não há risco de sua coluna ter sido afetada pela bala.
Benevides é casado, tem três filhos e está nos quadros da Polícia Militar do Ceará há 28 anos.

Colaborou Aletéia Patrícia, free-lance para a Agência Folha, em Fortaleza (CE)

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