São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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PM, BADERNA E REFORMAS

Com um atraso que não se justifica diante da urgência de uma situação que vem se agravando há semanas, o presidente Fernando Henrique Cardoso saiu do seu estranho silêncio para ontem reconhecer que as "manifestações (das polícias) não são para um país com um grau de democracia e avanço como o Brasil".
Desconte-se o compreensível otimismo embutido na fala do chefe da nação no que se refere ao "avanço" -mais lento do que seria desejável. O essencial, pelo menos por ora, é a reação ao clima de baderna que se instalou no país depois que as polícias de vários Estados deram mostras inequívocas de insubordinação e desrespeito à Constituição.
Como seria de supor, o mau exemplo protagonizado pelas polícias abriu um precedente grave e já disseminou seus efeitos nefastos sobre o restante do funcionalismo antes mesmo que a crise na segurança pública tenha sido controlada.
Ainda ontem, o comandante da Polícia Militar do Ceará foi baleado no ombro durante um confronto entre oficiais e soldados. O problema das rebeliões armadas, que parecia dissipado, volta a manifestar-se, desta vez num Estado tido como caso bem-sucedido de administração pública.
Somam-se a isso as ameaças de greves, que começam a pipocar em diversas áreas do funcionalismo, alcançando também trabalhadores da iniciativa privada que são responsáveis por serviços essenciais, a exemplo do que ocorre com o transporte público na cidade de São Paulo.
Diante de tudo isso, é preciso, pois, separar as questões e enfrentar pelo menos três problemas distintos: o primeiro, emergencial, é o restabelecimento imediato da ordem, tarefa da qual o poder público não pode mais se omitir, sob o risco de que o país caminhe perigosamente para o estado de anarquia.
Os demais problemas, a despeito de sua urgência, são estruturais: as reformas das PMs e do setor público.
A necessidade da primeira foi aludida ontem pelo presidente, que acenou com simpatia para a proposta do governador Mário Covas no sentido de unificar e desmilitarizar a polícia.
Quanto à segunda reforma, é do conhecimento de todos que os Estados estão hoje à beira do colapso financeiro, comprometendo, em alguns casos, quase toda a sua receita com o pagamento do funcionalismo. Sem que se mude isso, os governadores correm o risco de se transformar em meros síndicos de uma massa falida.

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