São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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As mãos e a obra

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O Ministério da Saúde deveria tornar obrigatório o seguinte aviso no horário gratuito de propaganda eleitoral: o exercício da Presidência causa letargia no raciocínio.
Só assim se pode entender por que o presidente Fernando Henrique Cardoso demorou tanto para se mexer diante da crise das polícias (e assim mesmo mexeu-se ontem apenas verbalmente).
Afinal, o seu "Mãos à Obra", o programa de governo que utilizou durante a campanha eleitoral, dedicava oito páginas ao tema da segurança pública (um dos cinco dedos da mão espalmada, se alguém ainda se lembra).
O diagnóstico era sombrio. Exemplos: "A inquietação com a falta de segurança no Brasil, hoje, reflete e agrava o descrédito nas instituições públicas. A violência já mata mais do que qualquer doença, na periferia das grandes cidades. (...) Os esforços das autoridades estaduais e federais para proteger o cidadão, mesmo quando consideráveis, mostram-se insuficientes". (...) Os braços do poder público para a aplicação da lei estão quebrados, como quase toda a máquina do Estado brasileiro".
O presidente precisou de dois anos e meio para descobrir que a situação não mudou. Ou, melhor, mudou para pior. Hoje, além de tudo o que estava dito no "Mãos à Obra", tem-se um quadro de anarquia de que o incidente de ontem no Ceará é apenas o mais recente sinal.
O folheto de campanha tinha, como intertítulo, "estreitar a cooperação com os Estados e municípios na defesa da segurança pública".
Dois anos e meio depois, o presidente volta ao tema, sinal de que nada foi feito nessa área.
Da mesma forma, caiu no vazio a promessa de "valorização profissional do policial". Promessa tão falsa que os policiais resolveram exigir sua "valorização" da forma mais inadequada possível, ou seja, de armas na mão.
É verdade que poucos cumprem promessas de campanha, mas FHC não precisava exagerar.

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