São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Auditores investigam sonegação da A D'oro

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria da Fazenda de São Paulo inicia hoje devassa fiscal em documentos apreendidos nas empresas A D'Oro Alimentícia e Comercial Ltda. e Obelisco Agropecuária Empreendimentos Ltda., ambas ligadas à família do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PPB).
Suspeitas de sonegar impostos, as empresas estão envolvidas na venda de frangos para a Prefeitura de São Paulo na gestão de Maluf (93-96). A A D'Oro pertence a Fuad Lutfalla, cunhado de Maluf; a Obelisco pertence a Lygia, mulher do ex-prefeito paulistano.
Entre agosto de 96 e fevereiro de 97, a A D'Oro forneceu 824.531 kg de coxa e sobrecoxa de frango para a prefeitura, faturando R$ 1,4 milhão. Praticamente na mesma época, a Obelisco faturou R$ 1,7 milhão com a venda de frangos vivos para a A D'Oro.
O Ministério Público suspeita de fraude à Lei das Licitações no contrato da A D'Oro com a prefeitura. Nicéa Pitta, mulher de Celso Pitta, atual prefeito de São Paulo, fez estágio na A D'Oro. Nicéa e Sylvia serão intimadas a depor.
Na última segunda-feira, o vereador Carlos Neder (PT) enviou ao Ministério Público cópias de primeira e segunda vias de uma mesma nota fiscal emitida pela A D'Oro. As duas vias tinham valores e quantidades diferentes.
Menos impostos
A nota referia-se a produtos vendidos ao empresário Waldecir da Costa Coelho, de São José dos Campos (SP). Na primeira via, o valor do produto era R$ 3.164,01. Por esse valor, a A D'Oro deveria recolher R$ 221,47 de ICMS.
Na segunda via, o valor cai para R$ 62,91 -o ICMS é reduzido para R$ 4,40. A Folha apurou na Secretaria da Fazenda que essa é uma prática comum utilizada por empresas que sonegam impostos.
Por causa disso, a secretaria foi anteontem a escritórios e granjas das duas empresas. Foram apreendidos centenas de documentos, entre livros fiscais e talonários.
A empresa de Waldecir Coelho também foi visitada. Ele confirmou que é cliente da A D'Oro, mas nega ter feito algum tipo de compra no dia em que as notas foram emitidas. A A D'Oro diz reconhecer apenas a nota de menor valor.
O material apreendido foi lacrado e guardado na Secretaria da Fazenda. A partir de hoje, auditores da secretaria começam a examinar os documentos.
Os auditores também farão levantamento sobre o faturamento das empresas. Se for comprovada sonegação fiscal, as empresas serão obrigadas a recolher os impostos e ainda pagarão 100% de multa sobre o valor da operação.
Empresa que sonega impostos não pode participar de nenhum processo de licitação em órgãos públicos. No caso da A D'Oro, ela foi a segunda colocada em uma concorrência para a venda de frangos para a prefeitura paulistana.
A empresa ganhadora foi a Frigobrás, da Sadia. Com a desistência mais tarde da Frigobrás, a prefeitura contratou a A D 'Oro. O Ministério Público acha que se tratou de um acordo prévio entre as duas empresas. Entende que deveria ter sido feita uma nova licitação.
Outro lado
A A D'Oro não quis se manifestar ontem sobre a suspeita de ter sonegado impostos. Na sede da empresa, em São Paulo, a informação é que Fuad Lutfalla está no exterior. Mauro Lopes, assessor de imprensa da empresa, disse que ela não se pronunciaria. Os telefones do escritório da Obelisco em São Paulo não atendiam às 18h30.

Texto Anterior: No ES, FHC defende mudanças para as PMs
Próximo Texto: Organização teme balas perdidas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.