São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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Decisão do PT-RS afasta Brizola de Lula

CARLOS EDUARDO ALVES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Está ameaçado o acordo entre PT e PDT para a sucessão presidencial de 98. Leonel Brizola (PDT) não gostou de uma resolução do PT gaúcho e manifestou seu desagrado à direção nacional do partido de Luiz Inácio Lula da Silva.
Em convenção, o PT gaúcho decidiu que somente em 98 listará os partidos com os quais pretende se aliar na eleição estadual.
Brizola, que se dispunha a apoiar Olivio Dutra ou Tarso Genro, os dois possíveis candidatos do PT ao governo do Rio Grande do Sul, entendeu o adiamento da decisão como um veto ao PDT.
Brizola deveria participar da mesa que abriria ontem à noite em Porto Alegre o "Foro de São Paulo", evento que reúne cerca de 70 partidos de esquerda das Américas e do Caribe.
Saúde
Alegando problemas de saúde, o pedetista comunicou aos organizadores que não poderia estar presente.
"O governador Brizola realmente não consegue entender a resolução, já que queria apoiar o PT no Rio Grande do Sul", afirmou José Dirceu, presidente nacional do PT.
Lula disse em Porto Alegre que pretende se encontrar com Brizola na semana que vem para discutir a situação da aliança. "É preciso receber e fazer concessões", afirmou ontem.
O petista, o nome mais forte para liderar um eventual chapa única de oposição a FHC, defende a realização de um congresso específico do PT no começo de 98 para discutir exclusivamente alianças eleitorais.
Dirceu conversou na última terça-feira com Brizola para tentar convencê-lo de que não houve um veto ao PDT, e sim apenas um adiamento para a formalização da aliança.
Lula
Em troca do aval ao petismo na eleição gaúcha, Brizola quer o apoio do partido de Lula ao PDT na disputa do governo fluminense.
Lula faz questão de uma coligação com o brizolismo ainda no primeiro turno, caso decida concorrer pela terceira vez ao Palácio do Planalto.
Esse acordo ainda corre risco porque petistas do Rio de Janeiro também resistem a apoiar um pedetista para o governo do Estado, que foi controlado pelo PDT de 1982 a 1986 e de 1990 a 1994.
A alteração no quadro sonhado por Lula foi reconhecida também por Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre.
"As relações políticas de Brizola com o PT não estão mais no mesmo patamar", disse Genro.
O ex-prefeito foi um dos signatários da proposta derrotada, na convenção do PT gaúcho, de definir já os aliados para 98, incluindo aí o PDT.
Na cúpula do PT, a resolução do PT gaúcho, controlado pelo setor de "esquerda" da legenda, foi interpretada como uma perigosa "casca de banana" jogada na articulação da candidatura Lula.
Veto
O atual prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, tentou minimizar o estrago. Pont é membro da corrente trotskista Democracia Socialista.
"Não houve um veto, só que a maioria do partido entendeu que ainda não é a hora de definir alianças", argumentou Pont.
Para frisar que não há objeção a um acordo eleitoral com o PDT no Estado, Pont declarou que uma terceira proposta, que vetava liminarmente a coligação com o brizolismo, também foi derrotado na convenção.
O grupo petista que mais se opõe ao entendimento com o PDT no Rio Grande do Sul é liderado pela deputada estadual Luciana Genro, filha de Tarso Genro.
Luciana é líder de um minúsculo grupo de extrema esquerda abrigado no PT e com inserção no Rio Grande do Sul e no Pará.
Genro é uma opção petista à candidatura de Lula. Ele já admitiu concorrer, caso Lula desista.

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