São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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'Sofro preconceito até da família'

DA REPORTAGEM LOCAL

A depressão fez Helena Andrade e Silva, 36, ex-assessora de imprensa, perder emprego, marido engordar 40 quilos e tentar quatro vezes o suicídio.
Depois de tentar vários tipos de tratamento, inclusive alguns nada ortodoxos, como eletrochoque, Helena diz que não tem nenhuma perspectiva de vida.
"Já experimentei todos os remédios e até hoje tomo as drogas mais modernas que existem no mercado. Mas meu caso é extremo e acho que nem a psiquiatria sabe mais o que fazer comigo", afirma Helena.
Em 1992, na esperança de se curar da depressão, que, na ocasião, julgava ser algo apenas passageiro, Helena chegou a fazer sozinha uma viagem de cinco meses pela Europa -realizando um antigo sonho de sua juventude.
Ela gastou US$ 60 mil na viagem e voltou com os mesmos problemas na bagagem.
"Cheguei a ficar dias trancada num quarto de hotel da Suíça só comendo chocolate", diz ela.
Helena teve sua primeira crise depressiva há cinco anos. Ela diz que não sofreu nenhum grande trauma na ocasião nem passou por alguma experiência triste que pudesse ser encarada como a detonadora da doença.
Helena conta que começou a se sentir sem vontade de fazer nada sem nenhum motivo aparente.
Sua depressão chegou a tal ponto que ela parou de ir ao escritório em que trabalhava.
O detalhe assustador era que seu escritório era em casa e ela não tinha vontade nem de levantar da cama e ir à sala ao lado.
Até hoje, o que mais a irrita é que muitas pessoas acham que depressão não é doença e gostam de dar "palpites de cura".
"Ninguém acha que depressão é doença só porque ela não faz sangrar. Sofro preconceito até da minha família", diz Helena.
"Tenho amigas que acham que, se eu sair de casa para fazer compras num shopping ou fizer uma boa dieta, vou melhorar. Esse tipo de visão da doença me magoa muito."

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