São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Governo tenta clarear Tietê e Pinheiros

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma técnica conhecida há pelo menos 50 anos pode ser a saída para remover poluentes dos rios Tietê e Pinheiros, na capital paulista.
Por meio da flotação, cerca de 99% dos coliformes fecais e 95% do fósforo presentes nos dois rios podem ser removidos, sem que o curso seja desviado. A remoção deve tirar 95% da turbidez da água.
Calcula-se que seriam extraídas dos rios, por dia, de 100 a 300 toneladas de lodo. Os coliformes são bactérias indicativas da presença de fezes num meio. O fósforo alimenta algas que conferem odor, cor e sabor desagradáveis à água.
A flotação -técnica que agrega partículas de ar às de poluentes, levando-os à superfície, onde são recolhidos- é utilizada em estações de tratamento de esgoto.
Agora, o governo do Estado quer empregá-la dentro dos rios -fato inédito no mundo. Os estudos foram encomendados pela Sabesp à DT Engenharia, a qual contratou a Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, para realizar ensaios.
Tudo o que se tem até aqui são os resultados de uma estação experimental montada sob a ponte da Fepasa, ao lado do rio Pinheiros.
Mas os dados obtidos em um mês de funcionamento animaram a Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos, Saneamento e Obras (SRH) a abrir licitação para contratar uma empresa que implante o sistema. A publicação do edital será feita daqui a 60 ou 90 dias.
Segundo o titular da SRH, Hugo Marques da Rosa, a água do Pinheiros sai da flotação com índice de turbidez entre 6 e 12. Para ser própria ao consumo humano, a água precisa ter índice máximo 5.
Além disso, numa escala de potabilidade de 1 a 4 (em que o 4 representa a água imprópria), a água sai com grau próximo ao 2. Ou seja, é uma água que, teoricamente, passando por um processo convencional de tratamento, pode até se tornar potável.
O objetivo da SRH, entretanto, não é transformar Tietê e Pinheiros em fontes de água mineral, ou num parque para o lazer aquático da população. A meta é tornar a água limpa o suficiente para que se possa retomar o bombeamento para a represa Billings.
Boa parte do leito dos rios dentro da cidade continuará poluída. "Cada rio vai se tornar dois rios diferentes, antes e depois de passar pelas estações", disse o professor José Roberto Campos, da Escola de Engenharia de São Carlos.
O próprio secretário admite que, mesmo que se coletasse e tratasse todo o esgoto da metrópole, o Tietê e o Pinheiros não estariam despoluídos. É o que mostra a análise da DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), índice que mede a quantidade de matéria orgânica biodegradável na água. Quanto maior a DBO, mais poluído o rio.
A água devolvida aos rios pelas estações de tratamento de esgoto tem DBO de cerca de 18 mg/l. Para ter índice de potabilidade classe 2, essa água deveria ter DBO de 5 mg/l. Isso seria obtido diluindo-a num rio de grande volume d'água -o que não é o caso dos rios que atravessam a capital.
"A região metropolitana de São Paulo é a única no mundo situada na nascente dos rios. Não há volume suficiente", disse o secretário.
A SHR quer testar a flotação nos rios em maio, na barragem móvel (intersecção de Tietê e Pinheiros), na barragem do Retiro (Tietê) e na usina elevatória de Traição (Pinheiros). Cada estação custa entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões. Em funcionamento, cada uma consumirá de R$ 500 mil a R$ 1 milhão por mês.

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