São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Latino-americano tem vida saudável até os 25

MARCOS PIVETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os latino-americanos e habitantes do Caribe têm, em média, pouco mais de 25 anos de vida completamente saudável, livre de qualquer doença que gere algum tipo de incapacitação ou deixe sequela, ainda que temporária ou extremamente branda.
Os moradores de países desenvolvidos, que detêm a maior expectativa de vida no globo, também contam com o maior tempo de vida saudável no mundo, mais de 45 anos.
Em segundo lugar, aparecem os habitantes dos países do Leste Europeu, com, no mínimo, 34 anos de vida saudável.
O pior índice de vida saudável é o dos países africanos situados abaixo do Saara -seus moradores têm apenas dez anos de vida saudável.
Os dados constam de um megatrabalho conjunto da OMS (Organização Mundial da Saúde), Escola Pública de Harvard e do Banco Mundial, publicado no segundo semestre do ano passado e pouco divulgado no Brasil.
O grande mérito do estudo, intitulado "The Global Burden of Disease" (literalmente, O Peso Global da Doença) é enfatizar o papel de doenças que não figuram entre as principais causas de morte, mas, em compensação, são as maiores promotoras de incapacitações ou sequelas, permanentes ou temporárias, na população.
"Esse tipo de estatística é escassa, mas muito importante para mostrar como as doenças interferem na qualidade de vida das pessoas", disse Guilherme Rodrigues da Silva, chefe do departamento de medicina preventiva da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
"Ao calcularmos os custos monetários e sociais das doenças, não podemos apenas considerar as moléstias que mais matam. Também temos que levar em conta as doenças que limitam as ações das pessoas ainda em vida."
O trabalho analisou o impacto de 107 doenças ou formas de acidentes que machucam as pessoas, além de 483 sequelas provocadas por essas ocorrências.
Outro dado surpreendente é que, em termos globais, metade dos casos de incapacitação ocorrem na fase mais produtiva da vida, entre os 15 e 44 anos.
Apenas 10% do casos de incapacitação provocada por doença aparecem após os 60 anos de idade e 18%, em crianças de 0 a 4 anos.
Fora dos anos de vida totalmente saudável, as pessoas convivem com as mais variadas formas de incapacitação ou sequelas causadas pelas doenças.
O conceito de incapacitação usado pelo estudo é bem amplo. Abrange desde os efeitos de uma anemia por falta de ferro num adulto -que provoca cansaço e deixa a pessoa mais "lenta"- até uma depressão profunda, que progressivamente pode acabar com a vida social, profissional e familiar da pessoa.
No trabalho da OMS e seus parceiros, as doenças ou acidentes danosos à saúde foram divididos numa escala de 1 a 7, de acordo com o seu poder de causar incapacitação ou sequelas.
As menos danosas, como vitiligo no rosto (espécie de despigmentação), receberam nota 1. As mais devastadoras, como demência ou tetraplegia, ganharam nota 7.
Na hora de formular uma política de saúde pública, diz o estudo, a maioria dos países costuma esquecer o papel que as doenças que mais incapacitam exercem sobre a saúde das pessoas e acabam centrando seus esforços apenas nas moléstias que mais matam.

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